segunda-feira, 7 de junho de 2021

À procura do equilíbrio

CRUZEIRO LEVOU sete gols em duas partidas na Série B 2021. Na temporada passada, levou o sétimo gol apenas na sexta rodada diante do América Mineiro. Em compensação (ou não), o time está mais criativo, perigoso e esforçado no ataque. No jogo de ontem contra o CRB, pela segunda rodada, foi batalhador, buscou o resultado até o fim, criou chances claras de gol, marcou alguns, perdeu outros que seriam decisivos (e houve aquele lance controverso que gerou dúvida se a bola entrou ou não - para mim, entrou). O meia-atacante Bruno José foi uma boa surpresa. No jogo contra o Confiança, mesmo com dois jogadores a menos, o time atacou com perigo. O que isto quer dizer tá na cara: o ataque tem evidente evolução, mas os problemas defensivos continuam comprometendo. Desequilíbrio que prejudica o time. 

Chapecoense e América Mineiro, respectivamente primeiro e segundo colocados na Série B 2020, tiveram disparadamente as melhores defesas do campeonato. Chape levou 21 gols, o time mineiro, 23. O próprio Cruzeiro, a terceira melhor defesa, tomou 32 gols. Fizeram, o campeão e o vice, pouco mais de 40 gols cada e com isso não estiveram entre os escretes que mais marcaram. Sugere-se uma correlação entre boa defesa e bom desempenho na segunda divisão nacional, todavia a característica que marca os dois melhores posicionados é o equilíbrio, a combinação de um sistema defensivo tenaz e um ataque competente o suficiente, sem precisar ser devastador, para garantir vitórias. Faltou isso ao Maior de Minas.

Não vou aqui propor "soluções mágicas" e afirmar que trata-se de uma receita para o Cruzeiro alcançar a Série A 2022. A nossa tragédia envolve fatores dentro e fora de campo, envolve um elenco limitado, um presidente e sua trupe incompetentes, mas acredito que este seja um caminho dentro das quatro linhas. Espero que o primeiro passo tenha sido dado, ao menos. Ontem o time demonstrou criatividade ofensiva. É bom que seja regular e não um ponto fora da curva. É preciso também evoluir na definição de jogadas. Quando o jogo estava 1 a 1, Sóbis teve a chance de virar e não conseguiu. O treinador Felipe Conceição, conhecido pelo "perfil ofensivo", está conseguindo materializar suas ideias de jogo, apesar da necessidade de constância. Há quem levante a hipótese de que a fragilidade defensiva do Cruzeiro tem relação direta com este perfil. Será?

Levar quatro gols do CRB e três gols do Confiança certamente indica algo grave. O senso comum pode fazer uma relação automática entre a "linha alta" de FC e a quantidade de gols que o Cruzeiro levou em apenas duas partidas na Série B. Sugere-se que esta forma de jogo implica em deixar espaços para o adversário que sabe se defender e, ao mesmo tempo, consegue encontrar uma "válvula de escape" para explorar essas lacunas (o Cruzeiro sofreu um pouco com isso contra o Juazeirense, no jogo de ida pela terceira fase da Copa do Brasil). Porém se observar bem os gols que levamos do time alagoano neste domingo (06/06), nenhum foi de contra-ataque propriamente dito. Levamos gol de cabeça, de falta, de oponente aproveitando falha e de chute de fora da área. Erros individuais comprometedores, como o do zagueiro Ramon, foram fundamentais. Na rodada anterior, dois dos gols do Confiança aconteceram quando estávamos com inferioridade numérica.

No mais, os problemas defensivos não apareceram com Felipe Conceição, nós torcedores sabemos bem disso. No ano passado, o Cruzeiro não teve nenhum treinador "ofensivo" ou de "linha alta", mas as dificuldades em criar uma defesa sólida, segura e confiante já existiam. Na Série B, terminou na terceira posição no ranking de menos gols tomados, como eu já disse. Entretanto a frieza dos números não revela tudo. Quem assistiu os jogos viu que não era insólito o Cruzeiro perder partidas ou deixar escapar pontos importantes por causa de falhas coletivas e/ou individuais que levavam ao gol do adversário. Mesmo com "linha baixa" nos estressávamos com a marcação cruzeirense. Cabe questionar, portanto, se nossa tragédia defensiva tem mais a ver com o "conteúdo", isto é, com os jogadores que temos, do que com a "forma", o estilo de jogo. 

De qualquer maneira, este é mais um desafio para Felipe Conceição e a diretoria resolverem. Encontrar o equilíbrio. É preciso elaborar a doutrina do meio-termo cruzeirense. O ataque melhorou (e ainda precisa continuar melhorando), no entanto, a defesa precisa avançar em qualidade ou o time continuará exposto aos adversários. 

Não adianta fazer gols quando se tem defesa frágil e insegura pronta para falhar.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA


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