quarta-feira, 9 de junho de 2021

Inofensivo de azul, goleador de verde

O centroavante Marcelo Moreno é um goleador quando joga com a camisa da Seleção Boliviana. Artilheiro das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo 2022, fez seis gols, superando por ora até Neymar, que marcou cinco vezes. Por outro lado, com a camisa do Cruzeiro, acumula atuações inócuas, gerando irritação no torcedor celeste. 

Na imprensa e nas redes sociais, é comum ler e ouvir a seguinte explicação minimalista: "na Seleção da Bolívia, a bola chega nele; no Cruzeiro, não". De fato, Moreno voltou a vestir a camisa celeste num período em que o time sofre com graves problemas ofensivos. Na Série B 2020, o escrete azul marcou 39 gols, média de 1,02 por jogo. Apenas o 13º melhor ataque. Além dele, o Cruzeiro testava outros atacantes centralizados. No entanto, com exceção de Sóbis ("falso 9"), nenhum manteve titularidade, porque não conseguiu balançar a rede regularmente ou porque não conseguiu sequer um único golzinho. O torcedor chegou a ter o zagueiro Manoel como esperança artilheira. 

Segundo o SofaScore, na mesma competição o Cruzeiro teve 48 "grandes chances" de gols. Em 26 partidas, Moreno perdeu duas dessas "grandes" oportunidades e marcou apenas três gols, um de pênalti. 

Portanto, na Série B, a grande maioria das boas chances de fazer gols não passou pelos pés do camisa 9 celeste. A bola chegou sim, mas pouquíssimas vezes.

Com a chegada do treinador Felipe Conceição e o consequente abandono do perfil "reativo" do time, a expectativa era de um rendimento relativamente maior de Moreno em 2021. Todavia a realidade está sendo outra. Ele jogou apenas quatro partidas no Campeonato Mineiro e uma na Copa do Brasil. Pelo conjunto das atuações, continua com desempenho inofensivo. É pouco utilizado pelo técnico.

Defesa desastrosa, ataque eficaz

Contudo, é valorizado pela Seleção Boliviana, onde ele é, e sempre foi, referência.

A Bolívia está entre os times nacionais mais fracos do futebol mundial. O problema maior parece estar no sistema defensivo. Nas Eliminatórias, marcou gol em cinco dos seis jogos, mas tem a pior defesa do campeonato, ao lado do Peru. O elenco é composto, em sua maioria, por jogadores que atuam em times que estão longe de serem "elite" da América do Sul.

Entretanto a "bola chega". O desempenho de Moreno jogando de verde é impressionante: fez gol em todas as cinco partidas em que participou nas Eliminatórias. A média dele é de 1,2 gol por jogo. Sem as assistências, porém, não conseguiria. Dos seis gols que ele fez, cinco tiveram contribuições diretas de seus companheiros, principalmente os meias. Um foi de pênalti. 

César Farias, o treinador do time boliviano, parece ser pragmático. Costuma variar suas formações táticas. Jogou duas partidas com 4-4-2, duas com 4-5-1, uma com o conservador 4-2-3-1 e uma com o 4-1-4-1. Mesmo com essa inconstância, Moreno continuou marcando gols, porque o meio-campo se manteve eficiente. 

No Cruzeiro, que costuma usar do 4-2-3-1 (com Felipe Conceição, tal desenho tático varia para 4-3-3), o meia centralizado, o suposto "armador", cria muito pouco e os pontas mais finalizam do que armam jogadas para o atacante central. Em 2020, um volante, Machado, foi o campeão de assistências no Maior de Minas. Foram cinco, em 29 jogos. Com companheiros de ataque pouco criativos e jogo coletivo taticamente e tecnicamente pobre, não tem como centroavante algum prosperar. 

Errata: diferentemente do que foi escrito, Marcelo Moreno não jogou na partida entre Brasil e Bolívia (vitória do time de Tite por 5 a 0), válida pela primeira rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo 2022. Assim, a média do centroavante cruzeirense é 1.2 por jogo, não 1.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

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