segunda-feira, 28 de junho de 2021

Cruzeiro continua incapaz de vencer o CSA

Reação de Fábio logo após o segundo gol do CSA
Imagem: printscreen do GE

Quando Felipe Augusto abriu o placar para o Cruzeiro, aos 5 minutos do primeiro tempo, contra o CSA, em Alagoas, pela sétima rodada da Série B, parecia o princípio de uma noite agradável para o cruzeirense. Eu cheguei a pensar: "agora engrena!". A ilusão durou 21 minutos. Aos 26, o atacante Iury, carrasco do time celeste, empatou com uma cabeçada. Dois minutos depois, ele mesmo virou o jogo após um erro grave (mais um) do zagueiro Joseph e uma falha do goleiro "vitalício" Fábio. 

É segunda virada relâmpago que o Cruzeiro sofre este ano. No primeiro jogo da semifinal do Campeonato Mineiro, o América passou à frente no placar em quatro minutos. Observem que o Cruzeiro estava com treinadores diferentes em ambas as partidas. Muda-se o comando técnico, mas os equívocos individuais permanecem comprometendo. 

O segundo gol do CSA resultou de um erro lastimoso. Joseph, jogador chamado de "versátil" pelo presidente Sérgio Santos Rodrigues, não sabe sair com a bola. Tentou o passe e a perdeu na entrada da área defensiva cruzeirense. Logo após roubar a pelota, Iury tentou cruzar, mas a bola foi direto ao gol e Fábio, surpreendido, aceitou. Joseph havia cometido erro semelhante no jogo contra o Goiás, porém o time esmeraldino não soube aproveitar. É reincidente, portanto. Dessa vez o adversário balançou a rede. Na etapa final, falhou na tentativa de marcar o atacante Silvinho no lance do quase terceiro gol do CSA. No jogo contra o time goiano ele fez um golaço... contra! Versátil sim, Sérgio... Prejudica o Cruzeiro de formas diferentes. 

Ele não é o único responsável pelo desastre defensivo, sejamos justos. No gol de empate do time alagoano, o zagueiro Weverton errou de forma insólita (estou usando eufemismo) o tempo da bola no meio-campo. Falha aproveitada pelo oponente, o que permitiu o princípio da jogada que resultou na igualdade do placar. 

E Fábio, como já dissemos, esperava um cruzamento de Iury, porém a bola foi no gol e ele não conseguiu defender. Falhou de novo no segundo tempo, quando não foi firme segurando a bola, soltando-a e dando rebote para o meia Bruno Mota fazer 3 a 1. Sorte ter sido impedimento.

É ídolo do Cruzeiro, sem dúvidas. Fez grandes contribuições à história do clube. Todavia é preciso ir atrás de um goleiro que possa sucedê-lo. Não podemos tratá-lo como um goleiro "vitalício". Isso está influenciando negativamente dentro de campo. Os erros desse jogo não foram os primeiros nessa Série B. 

Freguesia segue de pé

Não penso que essa derrota seja culpa da formação tática com três zagueiros. Desde Felipe Conceição, que usava o tradicional 4-2-3-1 (ou 4-3-3), o escrete vem sendo derrotado por causa, principalmente, de atuações errôneas, sejam individuais ou coletivas. Cruzeiro tomou 7 gols em dois jogos na Série B usando dois zagueiros e dois laterais. 

A média de gols tomados abaixou com o atual treinador. O 3-4-3 (que varia para 5-4-1 quando o time se defende) implementado por Mozart Santos havia dado relativa melhora defensiva ao time, o que ficou conspícuo nas partidas contra Ponte Preta e Operário-PR (apesar da derrota). Contra o Vasco, o "jogo controlado", sem sustos, não aconteceu plenamente. Os times paulista e paranaense (esse com um jogador a mais) tiveram mais posse de bola. Entretanto o Cruzeiro esteve mais no ataque, finalizando mais (sem muito perigo) que esses adversários e impondo marcação segura. O time cruzmaltino, por outro lado, teve mais posse, mais finalizações e deu mais trabalho ao sistema defensivo cruzeirense. No entanto, foi pouquíssimas vezes ameaçador.

Contra o CSA, Cruzeiro teve mais posse de bola (o adversário ficou mais cauteloso depois que passou a ganhar a partida), finalizou mais, só que não criou nenhuma grande chance. Fora o lance do gol, o momento mais efetivamente ofensivo veio de um chute do volante Adriano, obrigando o goleiro Thiago Rodrigues a espalmar. Já o oponente criou e poderia muito bem ter ampliado o placar. Aliás o time de Bruno Pivetti é um dos mais perigosos da Série B. O SofaScore informa: a média é de 1,8 "grande chance criada por jogo".

Cruzeiro continua incapaz de derrotar o CSA. Desde aquele infame jogo no Mineirão, pelo returno da Série A 2019, são quatro jogos, três vitórias do escrete de Alagoas e um empate. Também não consegue vencer o CRB. A recente freguesia para times alagoanos segue de pé. 

Mais detalhes desagradáveis: o time celeste agora tem a pior defesa do campeonato ao lado do mesmo CRB: ambos levaram 13 gols em sete jogos. E está a um ponto do Z4. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Matheus Barbosa faz dois gols e Vasco entra pelo cano

Matheus Barbosa e o zagueiro Ramon comemorando o segundo gol
Imagem: printscreen do GE

Quando Morato abriu o placar para o Vasco, aos 8 minutos, parecia ser o princípio de mais uma noite catastrófica para o cruzeirense. Algo sólito nessa Série B. O volante Matheus Barbosa, no entanto, mudou o destino da partida. Primeiro com um gol de empate, aos 14, logo após uma cobrança de escanteio, em que só precisou empurrar a bola para rede. O segundo, aos 28, foi um belo gol, pegando de primeira o passe de Felipe Augusto e mandando no ângulo do goleiro cruzmaltino.

Matheus Barbosa é bastante criticado pela torcida, por causa de más atuações como volante. Mas ofensivamente tem sido útil. Já balançou a rede seis vezes nesta temporada. Na Série B, marcou três vezes. Volante artilheiro? No mínimo, tem potencial para tal. O que sugere problemas ofensivos no Cruzeiro.

Quando jogadores de posições defensivas se destacam porque estão marcando gols, significa que tem algo errado com o ataque. Série B passada, Manoel chegou a ser "zagueiro artilheiro" - até Sóbis chegar, começar a fazer gols e assumir a artilharia do time no campeonato. Essa temporada infelizmente o "falso 9" não tem marcado, o que abre brecha para surgir mais uma vez no time o goleador que não é atacante. Assim tem sido o Cruzeiro: zagueiro artilheiro, volante artilheiro... Daqui a pouco, quem sabe, Fábio não vira goleiro artilheiro? Talvez surja também técnico artilheiro. Só não tem centroavante artilheiro, pelo menos ainda. 

O que não quer dizer que o ataque do Cruzeiro seja plenamente inofensivo. Temos o atacante Bruno José, que fez novamente uma boa partida, assim como Marcinho. Aliás, todos os cinco homens do meio para frente tiveram atuações agradáveis nesse jogo contra o Vasco. Todavia, o escrete não chega nem perto de um amplo domínio ofensivo, nem contra times muito mais fracos. Hoje soube aproveitar erros do oponente, porém criatividade ofensiva tem sido irregular. Sóbis jogou de centroavante. Contudo, ele foi "garçom", desviando bola que veio da cobrança de escanteio*, o que resultou no primeiro gol. Assim tem sido o Cruzeiro: o centroavante dá a assistência - isso é bom, óbvio -, mas ele não recebe.

Mozart Santos tem usado a formação 3-4-3, que é essencialmente ofensiva. Paradoxalmente, o time tinha se fortalecido defensivamente e regredido na criação do ataque. Quando fica sem a bola, os alas marcam, formando uma linha de cinco atrás e outra linha de quatro. A construção tática torna-se 5-4-1. Com a expulsão do zagueiro Paulo (houve um cartão vermelho para cada lado), o treinador teve que improvisar um jogador fora da posição (não tinha defensor substituto) para preencher a lacuna da linha.

No segundo tempo, o sistema defensivo do Cruzeiro esteve numa situação mais difícil em comparação com os dois jogos anteriores, pois o Vasco passou a pressionar. Dessa vez, o time de Mozart não "controlou" defensivamente a partida nos 45 minutos finais. O adversário: 1) teve mais posse de bola (56%) e com ela se impôs, com perigo em alguns momentos; 2) teve 6 escanteios, contra nenhum da Raposa; e 3) finalizou 13 vezes, contra uma única finalização cruzeirense -  em uma delas, Juninho chutou, aos 26, forçando Fábio a defender. O time azul apostava no contra-ataque.

A equipe carioca trocava passes perigosos, mas faltava definir as jogadas. Leo Jabá deu algum trabalho com sua velocidade e habilidade, porém não conseguiu incomodar Fábio pra valer. Cano conseguiu (poucas) chances e não aproveitou.

É a segunda vitória do Cruzeiro na Série B (a primeira no Mineirão). Agora tem 7 pontos e ocupa a 11ª posição. O aproveitamento é de 38,9%.


Roni Pereira, jornalista residente em Salvador

*Errei: não foi Sóbis quem cobrou o escanteio que resultou no primeiro gol do Cruzeiro e sim Marcinho. Sóbis desviou de cabeça e a bola sobrou para Matheus Barbosa. Isso foi contabilizado como assistência.

terça-feira, 22 de junho de 2021

O jogo contra o Vasco



Na rodada passada da Série B, o Vasco - próximo adversário do Cruzeiro nesta quinta-feira (24/06) - goleou o CRB por 3 a 0. Talvez tenha sido a melhor exibição do time cruzmaltino na competição.

O primeiro tempo do confronto foi um "mais do mesmo", algo comum no modorrento futebol brasileiro em geral: fraco tecnicamente, cauteloso, com pouquíssima criação ofensiva. Um lance de gol destoou do caráter da peleja, no entanto. Marquinhos Gabriel foi o grande nome do jogo. Aos 43, ele deu assistência para o artilheiro Cano colocar para o fundo das redes.

Rejeitado pelo Cruzeiro e detestado (com razão) pela torcida azul, Marquinhos Gabriel parece estar praticando um futebol razoável no Rio de Janeiro. Tem feito sucessivas boas partidas. A assistência contra o CRB foi a segunda dele com a camisa do Vasco no campeonato. Ademais, o terceiro gol da vitória saiu dos pés dele aos 49 minutos do segundo tempo.

O gol de Cano no final do primeiro tempo permitiu ao treinador Marcelo Cabo adotar a estratégia sólita de "marcar o gol e recuar". Assim, o CRB teve 65% de posse de bola nos 45 minutos finais. Forçado a buscar o gol de empate, se expôs, deixando lacunas que o Vasco soube aproveitar muito bem. O time carioca foi letal nas finalizações. Tal precisão fatal faltou ao CRB, que mandou duas bolas nas traves (o Vasco acertou uma vez também).

Além de Marquinhos Gabriel e Cano, Leo Jabá foi outro destaque. Entrou no segundo tempo, fez o segundo gol e participou do terceiro.

Enquanto o ataque do Vasco foi letal na última rodada, o do Cruzeiro demonstrou retrocesso. Diante do Operário-PR, criou muito pouco. Verdade que ficou com um jogador a menos aos 29 da etapa inicial, mas antes do cartão vermelho, o time celeste não foi uma ameaça ao goleiro Thiago Braga, embora tenha "controlado" a partida. Ter empatado o jogo, ainda no primeiro tempo, com um a menos merece algum destaque, porém.

O ponto forte do Cruzeiro de Mozart Santos tem sido a defesa. Desde a etapa final da partida contra a Ponte Preta, ele utiliza o 3-4-3. Três zagueiros, um único volante fazendo função de "pivô defensivo", sem laterais, mas com alas que marcam, podendo formar uma linha de cinco atrás. A intenção era montar um time ofensivo. O que conseguiu, todavia, foi uma marcação relativamente sólida, sem muita exposição ao risco. O que tem prejudicado o time celeste é... ele mesmo! Falhas individuais e expulsões juvenis estão contribuindo para o resultado a favor do oponente.

Durante 39 minutos do segundo tempo, o escrete mineiro conseguiu segurar o empate contra o Operário de Ponta Grossa. Manteve-se estável, sem sustos. Até que Fábio escorregou na lama e "aceitou" o chute de fora da área do lateral-esquerdo Djalma Silva.

O time cruzmaltino tem o atacante argentino Cano como referência. É jogador oportunista que costuma aproveitar deslizes defensivos. As assistências que resultaram em 2 dos 3 gols contra o CRB também merecem atenção, pois indicam uma perigosa sintonia entre meio-campo e ataque. Se tal desempenho foi "ponto fora da curva" (circunstâncias do jogo) ou se é o princípio de uma evolução contínua do time de Cabo, ainda não sabemos. Cruzeiro que abra o olho e construa boa postura defensiva. Nesse jogo de quinta-feira, equívocos - sejam individuais e/ou coletivos - terão maior probabilidade de contribuir para um resultado final favorável ao adversário.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

domingo, 20 de junho de 2021

39 minutos

Fábio (no chão) e outros jogadores do Cruzeiro, logo após o 2º gol do Operário
imagem: printscreen do GE

NA PRIMEIRA ENTREVISTA COLETIVA como treinador do Cruzeiro, Mozart Santos expressou sua preferência pelo futebol intenso e ofensivo. Curiosamente, as formações táticas que utilizou até agora têm fortalecido o time defensivamente. Sob seu comando, o ataque azul ainda não atingiu o nível que os torcedores esperam. Nos dois últimos jogos, contra Operário e Ponte Preta, ficou patente o progresso defensivo e retrocesso ofensivo. O maior problema que aflige o escrete ainda é o individual: erros que comprometem o resultado a favor do adversário.

Contra a Ponte Preta, foi um sistema de marcação tenaz mais uma jogada talentosa de Bruno José que garantiram o triunfo. Seria um modelo ideal de jogo (boa defesa + talento decidindo o jogo) para conseguir o acesso, mas o Cruzeiro não tem jogador talentoso e os erros individuais defensivos têm sido frequentes. Mozart iniciou contra o time paulista usando o 4-1-4-1 (ou 4-3-3) com a intenção de agredir o adversário. Foi surpreendido (palavras dele) pela formação com três zagueiros da Macaca. Voltou ao segundo tempo do mesmo jogo com 3-4-3, com a intenção vencer a boa marcação do oponente. O que conseguiu, porém, foi solidez atrás. A bela jogada de Bruno José decidiu a partida, como dissemos. Fábio mal trabalhou nesse jogo. 

No jogo contra o Operário, Mozart repetiu o 3-4-3 aparentemente. Cruzeiro ia bem na partida, por estar mais presente no campo de defesa do adversário. Não sofreu sustos, assim como também não foi ameaçador. Até que Weverton, com carrinho irresponsável, desmedido, foi expulso aos 29 do primeiro tempo. O jogo agora estava 11 contra 10. Um verdadeiro teste para a defesa cruzeirense sob o comando do técnico de 41 anos. O gol do time paranaense três minutos depois do cartão vermelho talvez indicasse a desgraça que estaria por vir para o escrete celeste. Mas não. O time se manteve seguro e conseguiu o empate aos 42 com Felipe Augusto pegando o rebote de um chute de Bruno José (ele de novo), que pareceu que ia fazer o mesmo gol que fez contra a Ponte. Logo em seguida, Fábio evitou o segundo gol.

Veio o segundo tempo. Se não estava conseguindo ser muito ameaçador com todos os jogadores em campo, com um a menos o Cruzeiro ficou pior. Nenhum chute verdadeiramente incômodo ao goleiro Thiago Braga. Já o Operário chegou duas vezes nos primeiros 11 minutos, com um chute de fora da área e uma cabeçada. Ambos para fora. Também não foram lances muito perigosos. O Cruzeiro se manteve defensivamente resistente por 39 minutos, mesmo com um jogador a menos. Bom sinal? Parece que sim. Ou pode ser que isso diga muito mais sobre o Operário...

O gol da vitória do time de Ponta Grossa saiu de um chute em que a bola fez um movimento curvo que matou Fábio. Ele escorregou numa "falha" do gramado, quando tentou defender.

Com Felipe Conceição, o time tinha maior criação ofensiva, mas levou sete gols em dois jogos na Série B. Mozart parece ter dado conta rapidamente do problema defensivo. Com ele, a média é de 1 gol tomado por partida (entre esses está  aquele gol contra bizarro do lateral-direito Joseph). Contudo, retrocedeu ofensivamente. Ainda está cedo, vamos ver se melhora. Os dois treinadores lidaram e lidam com equivocos individuais que prejudicam a equipe. 

O Cruzeiro tem patético aproveitamento de 27% na Série B e está de volta ao Z4. Continua sofrendo com desequilíbrio e com falhas e expulsões pueris. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Bruno José, decisivo, ajuda o Cruzeiro a vencer a primeira

Bruno José cercado por três marcadores momentos antes do gol/ Imagem: printscreen do GE

A regularidade do meia-atacante Bruno José foi essencial (e espero que continue sendo) para o Cruzeiro conquistar os primeiros quatro pontos na Série B. No jogo contra o Goiás, foi dele o passe para Marcinho empatar o jogo. Antes teve um bom desempenho contra o CRB. E agora foi decisivo diante da Ponte Preta, na vitória por 1 a 0, fora de casa, pela quarta rodada da Segunda Divisão nacional. O gol saiu de uma jogada tecnicamente acima da média, de um momento (raro) de brilho. Ele estava cercado por três defensores do time de Campinas. Se livrou da marcação e balançou a rede com uma finalização precisa. 

Bruno José não é um jogador talentoso. Longe disso. Mas a sua jogada foi talentosa. É sabido que o talento dentro das quatro linhas tem a capacidade de desequilibrar o jogo. Ponte Preta x Cruzeiro foi um jogo equilibrado, modorrento, com muita marcação e pobreza criativa no ataque. O time celeste usou e abusou, assim como a Ponte, de chutes de fora da área, porque retrocedeu ofensivamente em relação às partidas anteriores.

Mozart Santos começou o jogo com uma inédita formação 4-1-4-1 (na coletiva pós-jogo, ele disse que era 4-3-3). Rômulo estava na lateral-direita; Flávio como único volante; dois meias centralizados: Giovanni e Marcinho; dois extremos: Felipe Augusto e Bruno José; Sóbis como centroavante. 

Na maior parte dos primeiros 45 minutos, a marcação alvinegra conseguiu evitar a produtividade celeste, seja pelos lados ou por dentro. E vice-versa: o Cruzeiro impediu a construção de lances ofensivos perigosos do adversário. A única boa chance no primeiro tempo surgiu dos pés de Marcinho: um forte chute que obrigou o goleiro da Ponte Preta a espalmar. Entretanto, nenhum dos dois times conseguiu finalizar de dentro da área do oponente na primeira etapa.

Se a estratégia de Mozart era encurralar a Ponte, não funcionou eficientemente. Disse na primeira coletiva que gosta de "atacar", de "ter a bola" e "empurrar o time para trás". Nesse jogo, contudo, a Ponte teve maior posse de bola: 58% a 42%. A formação inicial 4-1-4-1 (ou 4-3-3) indicava intenção de pôr em prática suas ideias de jogo. Todavia o sistema defensivo alvinegro, com três zagueiros, atrapalhou as pretensões do treinador azul. 

No segundo tempo, o técnico cruzeirense resolveu tirar o lateral-esquerdo Matheus Pereira para colocar o zagueiro Weverton. O time celeste passou a ter também três zagueiros. A formação se tornou 3-4-3. Houve progresso ofensivo, mas não muito significativo e ainda incapaz de "empurrar" o adversário. Na etapa final, a Ponte teve 68% da posse de bola.

Ainda bem que houve o gol inteligente de Bruno José. O gol que deu os primeiros três pontos ao time celeste. O gol que tira o Cruzeiro da zona de rebaixamento. O gol que afunda a Ponte Preta na lanterna.

Outro dado importante: pela primeira vez na competição, Cruzeiro não levou gol. Fábio trabalhou muito pouco. O que indica uma melhora defensiva em relação a jogos anteriores. Porém é preciso equilíbrio. Mozart povoou o meio-campo ofensivo. No entanto, nenhum dos meias deu passes precisos para Sóbis finalizar e, fora o lance do gol, e do chute de Marcinho, nenhum foi efetivamente perigoso ao gol de Ygor Vinhas. A qualidade do ataque não melhorou com essa construção tática. Méritos da defesa da Ponte Preta?

Me arrisco a dizer que esse foi um jogo de características semelhantes com a partida contra o Atlético, na primeira fase do Mineiro. Jogo equilibrado - muita marcação, pouquíssimas chances -, em que o gol saiu de uma jogada perspicaz. 

As sugestões de Medioli

Vittorio Medioli, empresário italiano naturalizado brasileiro, torcedor e "ex-CEO" do Cruzeiro, apresentou, em entrevista à rádio Itatiaia, propostas para tirar o clube da situação desastrosa em que se encontra. As duas supostas soluções serão possíveis apenas com transformação do clube de associação civil sem fins lucrativos para "clube-empresa".

Medioli sugeriu "refundação" como uma saída. Ou começar do zero. O paradigma dele é o clube-empresa Parma, da Itália, que faliu em 2015 e recomeçou na Série D. Depois de sucessos em divisões inferiores, chegou novamente à Série A. Na última temporada, caiu para a B novamente. 

Para uma refundação desse tipo ser possível com o Cruzeiro, o clube precisaria se tornar formalmente empresa e depois ter falência decretada. Talvez com isso, recomece nas profundezas das divisões nacionais. O que certamente desagradaria a torcida. 

O Parma refundado tinha como proprietários duas empresas: uma composta por sete empresários, que era a maior acionista; outra era formada por torcedores. Hoje um grupo empresarial norte-americano é dono de 90% do clube italiano.

Outra saída, segundo Medioli, seria a criação de um "Cruzeiro S.A" alheio ao Cruzeiro "associação civil". No Brasil, existe um exemplo notório de proposta semelhante a essa. 

Em 1998, o Esporte Clube Vitória (BA) criou o Vitória S/A, uma empresa com capital aberto com o objetivo de dirigir o futebol rubro-negro. Conseguiu obter investimento estrangeiro, mas o negócio não vingou. O clube retomou o controle do futebol (e de outros setores) dez anos depois. A empresa existe até hoje. Não pode ser fechada por causa das dívidas e encargos trabalhistas que possui.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

domingo, 13 de junho de 2021

Defesa pastelão

O grande escritor Kurt Vonnegut caracterizou o gênero pastelão como "uma grotesca poesia de situações". Não consigo encontrar outro adjetivo para descrever o gol contra do lateral-direito Joseph. Pela força da peitada que ele deu na bola, suponho que quis jogar para fora. Errou o alvo e fez um golaço... só que a favor do adversário. 

Minutos antes, uma trapalhada entre jogadores do Cruzeiro dentro da grande área defensiva quase resultou no gol do Goiás. Um cruzeirense quis dar chutão para afastar o perigo, mas a bola bateu no próprio Joseph e sobrou, ainda dentro da área, para um jogador esmeraldino, que finalizou e obrigou Fábio a fazer boa defesa.

Com Covid-19, o lateral Raúl Cacéres - que vinha tendo atuações questionáveis - não pôde jogar contra o Goiás. Mozart optou por Joseph, volante de origem, mas que pode jogar na lateral-direita. 

Fingindo que o gol contra bizarro nunca aconteceu, ainda assim a atuação dele não foi muito empolgante para o torcedor. Para o estilo de jogo de "futebol construído" de Mozart, ele pode ser adequado, pois acertou 94% dos passes. Também teve precisão em todas as 3 bolas longas; útil para pôr em prática a "verticalidade" exigida para um estilo que "gosta de atacar". Quando o quesito é ofensividade, porém, os números pioram. Joseph não deu um único cruzamento preciso. As informações são do SofaScore.

Desatenção defensiva

O ponto positivo foi, mais uma vez, a postura ofensiva do escrete celeste, embora falte caprichar na finalização e ser mais veloz na transição. Quando estava sendo derrotado, Mozart arriscou colocar o time "para frente" em busca, pelo menos, do empate. Conseguiu. Cumpriu com o que disse na coletiva: "gosto de atacar, de ter a bola, de empurrar o adversário para trás". Fez substituições que permitiram a equipe povoar o campo de defesa do Goiás. Até que o gol saiu, dos pés do meia Marcinho, com assistência de Bruno José, que tem feito boas partidas. O Cruzeiro tem demonstrado regularidade ofensiva. 

A preocupação maior de Mozart, no momento, é formar uma defesa sólida, como já dissemos. A desatenção na marcação tem sido um obstáculo para que isso se concretize. Uma defesa pastelão sempre terá potencial para comprometer resultados contra a equipe. 

O Cruzeiro tomou 8 gols nos três jogos da Série B. São números piores em relação às três primeiras partidas da edição de 2020. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

sábado, 12 de junho de 2021

Mozart precisa compor uma defesa tenaz


Neste sábado (12/06) será o primeiro jogo de Mozart Santos como treinador do Cruzeiro. Em duas partidas na Série B, o time celeste já levou sete gols. Portanto, o maior desafio, no momento, para o novo comandante é ajeitar esse problema defensivo. 

No Campeonato Mineiro deste ano, o Cruzeiro teve a melhor defesa da primeira fase. Levou apenas quatro gols em 11 jogos. Mas é um torneio tecnicamente fraco. Bastou enfrentar um time mais qualificado na semifinal, o América, que as deficiências ficaram escancaradas. Dois jogos foram o suficiente para o escrete de Felipe Conceição levar uma quantidade de gols superior ao total que levou na competição inteira. O time de Lisca fez cinco gols.

Na derrota para o Confiança na primeira rodada, houve uma situação atípica, é verdade. Duas expulsões, por exemplo. Todavia, levou o primeiro gol quando o jogo estava 11 contra 11. No segundo tempo, mesmo com inferioridade numérica, buscou o resultado - até chegou a empatar e teve chances de fazer o segundo gol - porém ao fazer isso se expôs mais que o normal e levou dois gols. 

Contra o CRB, falhas individuais e coletivas (e de arbitragem) comprometeram o resultado. Assim como um erro conjunto permitiu o gol da Juazeirense na fatídica eliminação da Copa do Brasil na última quarta-feira. O time de "Tigrão" adotou estratégias táticas distintas nessas duas partidas. No jogo contra o time alagoano, marcou em "linha alta", criou diversas chances de gols, foi ofensivo; contra a equipe baiana, adotou um estilo mais cauteloso, defensivo, e deixou o adversário tentar propor o jogo. Em ambos os jogos, foram as más atuações individuais que levaram às respectivas derrotas. O que nos leva a supor que o problema está no "conteúdo" do time, não na "forma".

O que Mozart poderá fazer para resolver esse problema?

Se estamos falando de qualidade de elenco, é preciso reforços. No entanto, como "forma" e "conteúdo" se relacionam dialeticamente, é possível que uma determinada construção tática melhore também o desempenho individual (e vice-versa), além do coletivo. Quando falamos em "jogo ofensivo" ou "defensivo" não se trata de uma dicotomia simplista, pois há variados tipos de táticas "ofensivas" e "defensivas". Em entrevista coletiva, o novo treinador do Cruzeiro afirmou que gosta "de atacar, ter a bola e empurrar o adversário para trás". Porém o seu estilo de jogo não é exatamente igual ao do treinador anterior. Será que uma nova "forma" pode melhorar a defesa?

Com a palavra, Leonardo Rezende, analista de desempenho em futebol, em entrevista ao portal Superesportes MG:

Diferentemente do Conceição, em momento defensivo, a prioridade do Mozart é uma marcação em bloco médio. Talvez, pelo elenco que tinha no CSA e pelo que vai encontrar no Cruzeiro, aproveite a filosofia e faça marcação em bloco alto. Nos tiros de meta, ele subia o bloco e tentava recuperar em zona avançada. Marcação individual no setor da bola.

Nesses momentos, marcava em 4-4-2 e, de acordo com avanço da equipe adversária, variava para um 4-2-3-1, com os pontas vigiando os laterais, o atacante dividindo entre os zagueiros e um dos meias no volante. Os outros dois volantes dando cobertura por trás. Em bloco médio, também fazia marcação individual por setor. O tipo muda pouco em relação ao Conceição. O que deve mudar é que, inicialmente, a equipe não deve marcar tanto em bloco alto. Talvez, seja bom para o time recuperar confiança e melhorar o sistema defensivo.

Quando perdia a bola, o CSA tinha uma ideia de pressionar após a perda para recuperar rápido. Era muito mais coordenada e coletiva do que a do Cruzeiro com o Conceição, até pelo tempo de trabalho. Por não atacar com tantas peças, o CSA também tinha mais jogadores preparados para possíveis transições defensivas. Achei um time mais equilibrado, mas era um trabalho que já tinha 30 jogos, bem mais consolidado.
Atentem ao trecho "um time mais equilibrado". Os fracassos do Cruzeiro dentro de campo tem como uma de suas principais causas o desequílibrio. No ano passado, a defesa foi o ponto forte (apesar de falhas comprometedoras ao longo da competição), terminou a Série B como a terceira menos vazada. Mas a criatividade ofensiva era pífia e o time terminou como o 13º melhor ataque. Nesta temporada, Felipe Conceição conseguiu melhorar razoavelmente o poder ofensivo do time. Dava sinais de ter uma boa defesa, como ficou mostrado no jogo contra o Atlético Mineiro e na primeira fase do estadual. Entretanto, desde a semifinal do Mineiro, o sistema defensivo tem sido desastroso, como já dissemos aqui. 

Mozart pode se aproveitar da estrutura deixada por Felipe Conceição, no quesito ataque. A filosofia da "verticalidade" foi, pelo menos um pouco, introduzida no elenco. Mais importante, por ora, é saber como ele ajeitará a defesa. Vai aplicar o padrão que aplicou no CSA, como o bloco médio de marcação? Não custa tentar. Ele parece ser taticamente diferente dos antecessores. Se há algum "avanço" em relação ao ano passado, é ter parado com o "mais do mesmo" na escolha de treinadores. O Cruzeiro precisa tentar coisas novas. 

Boa sorte, Mozart!

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Uma incógnita chamada Cruzeiro

Mozart é mais uma aposta. Entretanto as alternativas que há também são, embora uns tenham maior probabilidade de darem certo do que outros

Mozart Santos é o novo treinador do Cruzeiro. Depois de demitir Felipe Conceição na mesma noite em que aconteceu a derrota e eliminação para o Juazeirense, nos pênaltis, pela Copa do Brasil, o clube foi imediatamente ao mercado atrás de outros nomes. Na verdade, como revela o GE, antes do jogo contra o time baiano, Sérgio Rodrigues e sua trupe já monitoravam o técnico de 41 anos. Nos bastidores consideravam de antemão a possibilidade do vexame na competição nacional (o que se concretizou) e por isso cogitavam a substituição de "Tigrão".

O melhor trabalho de Mozart foi a arrancada do CSA na Série B 2020: o time saiu da zona de rebaixamento e brigou pelo acesso até o fim, terminando o campeonato em quinto lugar, a 3 pontos da vaga na Série A. Depois ele aceitou treinar a Chapecoense, não repetindo o bom desempenho que teve no desafio anterior. Foi demitido em pouco mais de 40 dias. 

Mozart é mais uma aposta. Entretanto as alternativas que há também são, embora uns tenham maior probabilidade de darem certo do que outros. O Brasil sofre com pobreza tática. Alguns grandes clubes brasileiros estão indo buscar treinador em outros países. Outros pegam os melhores daqui mesmo. Sobram as incógnitas. E não se trata apenas de novatos. Até os veteranos tornam-se apostas no time celeste. O clube sofre com problemas proporcionais ao seu gigantesco tamanho. Aceitar o desafio de reerguê-lo implica em trabalho hercúleo; em tentar fugir de um campo minado complexo. Enderson Moreira e Ney Franco haviam sido bem sucedidos recentemente na Série B, porém não deram certo. 

Até Felipão - ultrapassado, mas campeão nacional não faz nem 3 anos - não conseguiu melhorar significativamente o time, ainda que tenha sido o melhor entre os técnicos que passaram pela Toca da Raposa em 2020.

A coisa se complica diante da nova regra imposta: só pode trocar de treinador uma única vez. Ou seja, Mozart é a última bala do Cruzeiro. Se o tiro for desperdiçado, terá que ficar com o técnico interino até o fim do Brasileirão.

É possível identificar um paradigma nas escolhas de Sérgio Rodrigues, o presidente (infelizmente). O critério não é incorreto, a meu ver, mas desconsidera as especificidades de uma instituição de futebol. Ele supostamente se baseia no rendimento para contratar. Trouxe o rejeitado Rodrigo Pastana para o cargo de Diretor Executivo de Futebol - apesar do histórico de conduta bastante questionável desse cidadão -, porque ele seria "especialista em acessos". Esse  trabalhou com Mozart no Coritiba e na boa e quase bem-sucedida campanha do CSA na Série B passada. 

Antes, o Cruzeiro trouxe Enderson e Ney, justamente porque, como já sabemos, tinham conseguido acessos com outros times. Sérgio age como um empresário olhando currículos e escolhendo aqueles que indicam experiências recentes e de sucesso, ao mesmo tempo em que se adequam à realidade do clube. Não é má a ideia (que ele executa de forma desastrosa). Só que empresa privada é uma coisa, clube de futebol, associação civil, é outra.

Ainda que no comando esteja alguém com boa experiência e currículo respeitável, como Felipão, isso não é garantia de sucesso em qualquer desafio no futebol - até aquele relativamente menos complicado. Mesmo que tentem tornar esse esporte o mais científico, exato e racional possível. E quando se escolhe profissionais com currículos medíocres, a probabilidade de dar certo obviamente reduz. O futebol envolve inúmeras variáveis, algumas sob controle, outras não; algumas conhecidas, outras nem tanto. Dentro e fora das quatro linhas. 

Os clubes costumam lidar com variáveis gerais, aquelas que são comuns, mas há as específicas que mudam conforme a instituição. Ney Franco deu certo com o Goiás na Série B. No Esmeraldino, ele lidou com certas variáveis. Fracassou no Cruzeiro, trabalho em que já envolvia algumas outras muito distintas. Mozart, como já dito, quase alcançou a Série A com o CSA, todavia não rendeu treinando a Chapecoense. No time alagoano, as variáveis formavam uma coisa; em Santa Catarina, outra. No Cruzeiro, será também diferente. 

Quando o clube está emocional e financeiramente instável, a situação naturalmente piora ainda mais. O dinheiro ajuda a manter determinadas variáveis sob controle, assim como o ambiente tranquilo para trabalhar. 

O ideal seria buscar um treinador que se enquadre em um padrão bastante específico. Contudo, é improvável. O imbróglio do Cruzeiro parece ser algo nunca visto antes, ao menos por aqui. É resultado de uma destruição gradativa que dura anos, começando silenciosa e depois estourando na cara de todos, e que culminou nessa situação.

Resta reforçar o time e criar a melhor condição possível de trabalho para o próximo treinador. Cruzeiro continua sendo uma incógnita em 2021.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Tigrão de papel


Era o Cruzeiro hexacampeão jogando contra o modesto Juazeirense, time do interior baiano, pela terceira fase da Copa do Brasil. No comando do maior vencedor da competição estava o treinador Felipe Conceição, conhecido como "Tigrão". O adversário do time celeste está na última divisão nacional. Sabe se lá quantas folhas salariais do Cancão de Fogo os gastos cruzeirenses podem pagar. Mas passou para as oitavas-de-final do torneio o "Davi sertanejo", que venceu o "Golias azul" nos pênaltis depois de ganhar no tempo normal por 1 a 0.

Na partida de ida, no Mineirão, o Juazeirense demonstrou ser um time sem repertório. Não soube propor o jogo. No entanto, ciente de suas limitações, soube ser, ainda que pouco, ameaçador. Sua estratégia consistiu em ficar na retranca diante do "poderoso" oponente e fazer ligação direta para pegar a defesa azul desprevenida. Quase deu certo, pois conseguiu em alguns momentos dar sustos no Cruzeiro. Fábio teve que fazer uma boa defesa.

No segundo tempo da mesma partida, o time baiano não conseguiu mais ameaçar o gol cruzeirense, porém ainda conseguia manter a defesa estável. O escrete montado pelo Tigrão, apesar de ser limitado de acordo com determinados padrões, ainda tinha superioridade técnica sobre o adversário. Uma hora ia se impor e foi o que aconteceu.

Essas duas partidas entre Cruzeiro e Juazeirense foram marcadas por duas ironias cruéis. A primeira: o gol de Bruno José foi feito por contra-ataque, exatamente a mesma arma que o Cancão de Fogo esperava dispor para triunfar. Num raro momento em que a defesa baiana estava desprevenida, o ponta do Cruzeiro aproveitou e marcou o gol da vitória. O time do Tigrão prevaleceu. Mas tinha vencido só a batalha, não a guerra.

No segundo jogo, no Adauto Moraes (Juazeiro), esperava-se que o Juazeirense fosse buscar o resultado, pois estava em desvantagem. Isso implicaria em mais espaços para o Cruzeiro aproveitar. Todavia o que se viu foi um Felipe Conceição "pragmático", no sentido pejorativo do termo. Abriu mão da posse de bola, da "linha alta", do "perfil ofensivo", da procura incessante pelo gol para adotar um estilo cauteloso, o que acaba deixando a bola para o adversário e permitindo ele propor o jogo. Em outras palavras, um "time cagão". Nem Sóbis foi titular. Parecia conveniente jogar assim, porque havia a vantagem adquirida na primeira partida. 

Foi um erro grave, como se viu. Tigrão esperava um Juazeirense pobre ofensivamente, como na primeira peleja. E realmente o time do Sertão baiano continuou assim na segunda. Mas quando se conta com jogadores tecnicamente limitados para "fechar a casinha", tal postura cautelosa não é uma boa ideia. Se chamar demais o oponente, uma hora alguém vai arrombar a casinha. Foi o que aconteceu: Ramon (de novo!), Cáceres e Wéverton falharam. O erro conjunto permitiu o escrete baiano marcar o gol da vitória no tempo normal. O Cruzeiro ainda teve chance de empatar depois, porém não conseguiu, em outro lance polêmico.

O Cruzeiro imponente de outrora não existe mais. Na primeira partida, ainda tinha uma aparência grandiosa (trata-se do hexacampeão) a ponto de fazer o adversário se fechar na defesa. Contudo, o Tigrão não era o que parecia. Era um Tigrão de papel, afinal. O líder comunista Mao Zedong define:

Na aparência é muito poderoso, mas, na verdade, não é nada a temer; é um tigre de papel. De fora um tigre, dentro é feito de papel, incapaz de resistir ao vento e à chuva. 

A outra ironia, já ia me esquecendo. Conceição foi demitido logo após a derrota por 3 a 2 na disputa de pênaltis. Alguns torcedores o criticavam por ele jogar em "linha alta" com um time limitado. Segundo alguns destes gênios táticos, a fórmula mágica para alcançar o acesso é se fechar e jogar no contra-ataque, mesmo diante de times mais fracos. Tigrão os ouviu, aparentemente. Adotou uma postura cagona, subestimou o Juazeirense e foi derrotado. O Cruzeiro deu um vexame monumental. O treinador "ofensivo" foi para o olho da rua depois de ter fracassado na partida em que apostou no estilo defensivo para vencer.

Vai embora também, Sérgio

O presidente Sérgio Rodrigues tinha que ter saído do cargo há algum tempo. Fracassou em fazer o time alcançar a Série A na temporada passada por causa de escolhas erradas dentro e fora de campo. Cumpre mandato, é verdade, porém já deveria ter reconhecido que não é capaz de ajudar a reerguer o clube. Ele prossegue no comando e as coisas só pioram. Continua errando e suas más decisões culminaram em um dos maiores vexames do Cruzeiro na Copa do Brasil. É mais outro incompetente e marqueteiro que só conseguiu ser presidente porque há uma oligarquia no controle do clube. 

O Cruzeiro precisa ser democratizado para que o sócio-torcedor tenha o direito ao voto e até mesmo de se candidatar. Tem que haver uma diversidade de opções de escolha presidencial. O torcedor celeste deve ter o direito de influir diretamente no destino da instituição. Chega de uma "elite de iluminados" achando que pode conduzir o clube melhor do que a torcida. A sucessão de atuações patéticas e vergonhosas indica que essa turma tem que ficar longe do Cruzeiro. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

Inofensivo de azul, goleador de verde

O centroavante Marcelo Moreno é um goleador quando joga com a camisa da Seleção Boliviana. Artilheiro das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo 2022, fez seis gols, superando por ora até Neymar, que marcou cinco vezes. Por outro lado, com a camisa do Cruzeiro, acumula atuações inócuas, gerando irritação no torcedor celeste. 

Na imprensa e nas redes sociais, é comum ler e ouvir a seguinte explicação minimalista: "na Seleção da Bolívia, a bola chega nele; no Cruzeiro, não". De fato, Moreno voltou a vestir a camisa celeste num período em que o time sofre com graves problemas ofensivos. Na Série B 2020, o escrete azul marcou 39 gols, média de 1,02 por jogo. Apenas o 13º melhor ataque. Além dele, o Cruzeiro testava outros atacantes centralizados. No entanto, com exceção de Sóbis ("falso 9"), nenhum manteve titularidade, porque não conseguiu balançar a rede regularmente ou porque não conseguiu sequer um único golzinho. O torcedor chegou a ter o zagueiro Manoel como esperança artilheira. 

Segundo o SofaScore, na mesma competição o Cruzeiro teve 48 "grandes chances" de gols. Em 26 partidas, Moreno perdeu duas dessas "grandes" oportunidades e marcou apenas três gols, um de pênalti. 

Portanto, na Série B, a grande maioria das boas chances de fazer gols não passou pelos pés do camisa 9 celeste. A bola chegou sim, mas pouquíssimas vezes.

Com a chegada do treinador Felipe Conceição e o consequente abandono do perfil "reativo" do time, a expectativa era de um rendimento relativamente maior de Moreno em 2021. Todavia a realidade está sendo outra. Ele jogou apenas quatro partidas no Campeonato Mineiro e uma na Copa do Brasil. Pelo conjunto das atuações, continua com desempenho inofensivo. É pouco utilizado pelo técnico.

Defesa desastrosa, ataque eficaz

Contudo, é valorizado pela Seleção Boliviana, onde ele é, e sempre foi, referência.

A Bolívia está entre os times nacionais mais fracos do futebol mundial. O problema maior parece estar no sistema defensivo. Nas Eliminatórias, marcou gol em cinco dos seis jogos, mas tem a pior defesa do campeonato, ao lado do Peru. O elenco é composto, em sua maioria, por jogadores que atuam em times que estão longe de serem "elite" da América do Sul.

Entretanto a "bola chega". O desempenho de Moreno jogando de verde é impressionante: fez gol em todas as cinco partidas em que participou nas Eliminatórias. A média dele é de 1,2 gol por jogo. Sem as assistências, porém, não conseguiria. Dos seis gols que ele fez, cinco tiveram contribuições diretas de seus companheiros, principalmente os meias. Um foi de pênalti. 

César Farias, o treinador do time boliviano, parece ser pragmático. Costuma variar suas formações táticas. Jogou duas partidas com 4-4-2, duas com 4-5-1, uma com o conservador 4-2-3-1 e uma com o 4-1-4-1. Mesmo com essa inconstância, Moreno continuou marcando gols, porque o meio-campo se manteve eficiente. 

No Cruzeiro, que costuma usar do 4-2-3-1 (com Felipe Conceição, tal desenho tático varia para 4-3-3), o meia centralizado, o suposto "armador", cria muito pouco e os pontas mais finalizam do que armam jogadas para o atacante central. Em 2020, um volante, Machado, foi o campeão de assistências no Maior de Minas. Foram cinco, em 29 jogos. Com companheiros de ataque pouco criativos e jogo coletivo taticamente e tecnicamente pobre, não tem como centroavante algum prosperar. 

Errata: diferentemente do que foi escrito, Marcelo Moreno não jogou na partida entre Brasil e Bolívia (vitória do time de Tite por 5 a 0), válida pela primeira rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo 2022. Assim, a média do centroavante cruzeirense é 1.2 por jogo, não 1.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

segunda-feira, 7 de junho de 2021

À procura do equilíbrio

CRUZEIRO LEVOU sete gols em duas partidas na Série B 2021. Na temporada passada, levou o sétimo gol apenas na sexta rodada diante do América Mineiro. Em compensação (ou não), o time está mais criativo, perigoso e esforçado no ataque. No jogo de ontem contra o CRB, pela segunda rodada, foi batalhador, buscou o resultado até o fim, criou chances claras de gol, marcou alguns, perdeu outros que seriam decisivos (e houve aquele lance controverso que gerou dúvida se a bola entrou ou não - para mim, entrou). O meia-atacante Bruno José foi uma boa surpresa. No jogo contra o Confiança, mesmo com dois jogadores a menos, o time atacou com perigo. O que isto quer dizer tá na cara: o ataque tem evidente evolução, mas os problemas defensivos continuam comprometendo. Desequilíbrio que prejudica o time. 

Chapecoense e América Mineiro, respectivamente primeiro e segundo colocados na Série B 2020, tiveram disparadamente as melhores defesas do campeonato. Chape levou 21 gols, o time mineiro, 23. O próprio Cruzeiro, a terceira melhor defesa, tomou 32 gols. Fizeram, o campeão e o vice, pouco mais de 40 gols cada e com isso não estiveram entre os escretes que mais marcaram. Sugere-se uma correlação entre boa defesa e bom desempenho na segunda divisão nacional, todavia a característica que marca os dois melhores posicionados é o equilíbrio, a combinação de um sistema defensivo tenaz e um ataque competente o suficiente, sem precisar ser devastador, para garantir vitórias. Faltou isso ao Maior de Minas.

Não vou aqui propor "soluções mágicas" e afirmar que trata-se de uma receita para o Cruzeiro alcançar a Série A 2022. A nossa tragédia envolve fatores dentro e fora de campo, envolve um elenco limitado, um presidente e sua trupe incompetentes, mas acredito que este seja um caminho dentro das quatro linhas. Espero que o primeiro passo tenha sido dado, ao menos. Ontem o time demonstrou criatividade ofensiva. É bom que seja regular e não um ponto fora da curva. É preciso também evoluir na definição de jogadas. Quando o jogo estava 1 a 1, Sóbis teve a chance de virar e não conseguiu. O treinador Felipe Conceição, conhecido pelo "perfil ofensivo", está conseguindo materializar suas ideias de jogo, apesar da necessidade de constância. Há quem levante a hipótese de que a fragilidade defensiva do Cruzeiro tem relação direta com este perfil. Será?

Levar quatro gols do CRB e três gols do Confiança certamente indica algo grave. O senso comum pode fazer uma relação automática entre a "linha alta" de FC e a quantidade de gols que o Cruzeiro levou em apenas duas partidas na Série B. Sugere-se que esta forma de jogo implica em deixar espaços para o adversário que sabe se defender e, ao mesmo tempo, consegue encontrar uma "válvula de escape" para explorar essas lacunas (o Cruzeiro sofreu um pouco com isso contra o Juazeirense, no jogo de ida pela terceira fase da Copa do Brasil). Porém se observar bem os gols que levamos do time alagoano neste domingo (06/06), nenhum foi de contra-ataque propriamente dito. Levamos gol de cabeça, de falta, de oponente aproveitando falha e de chute de fora da área. Erros individuais comprometedores, como o do zagueiro Ramon, foram fundamentais. Na rodada anterior, dois dos gols do Confiança aconteceram quando estávamos com inferioridade numérica.

No mais, os problemas defensivos não apareceram com Felipe Conceição, nós torcedores sabemos bem disso. No ano passado, o Cruzeiro não teve nenhum treinador "ofensivo" ou de "linha alta", mas as dificuldades em criar uma defesa sólida, segura e confiante já existiam. Na Série B, terminou na terceira posição no ranking de menos gols tomados, como eu já disse. Entretanto a frieza dos números não revela tudo. Quem assistiu os jogos viu que não era insólito o Cruzeiro perder partidas ou deixar escapar pontos importantes por causa de falhas coletivas e/ou individuais que levavam ao gol do adversário. Mesmo com "linha baixa" nos estressávamos com a marcação cruzeirense. Cabe questionar, portanto, se nossa tragédia defensiva tem mais a ver com o "conteúdo", isto é, com os jogadores que temos, do que com a "forma", o estilo de jogo. 

De qualquer maneira, este é mais um desafio para Felipe Conceição e a diretoria resolverem. Encontrar o equilíbrio. É preciso elaborar a doutrina do meio-termo cruzeirense. O ataque melhorou (e ainda precisa continuar melhorando), no entanto, a defesa precisa avançar em qualidade ou o time continuará exposto aos adversários. 

Não adianta fazer gols quando se tem defesa frágil e insegura pronta para falhar.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA


A Cartomante

Eram 22 horas. No bar Antipelego, a conversa regada a cerveja e a cachaça era comandada por trabalhadores da construção civil. Depois de dez...