quarta-feira, 16 de junho de 2021

Bruno José, decisivo, ajuda o Cruzeiro a vencer a primeira

Bruno José cercado por três marcadores momentos antes do gol/ Imagem: printscreen do GE

A regularidade do meia-atacante Bruno José foi essencial (e espero que continue sendo) para o Cruzeiro conquistar os primeiros quatro pontos na Série B. No jogo contra o Goiás, foi dele o passe para Marcinho empatar o jogo. Antes teve um bom desempenho contra o CRB. E agora foi decisivo diante da Ponte Preta, na vitória por 1 a 0, fora de casa, pela quarta rodada da Segunda Divisão nacional. O gol saiu de uma jogada tecnicamente acima da média, de um momento (raro) de brilho. Ele estava cercado por três defensores do time de Campinas. Se livrou da marcação e balançou a rede com uma finalização precisa. 

Bruno José não é um jogador talentoso. Longe disso. Mas a sua jogada foi talentosa. É sabido que o talento dentro das quatro linhas tem a capacidade de desequilibrar o jogo. Ponte Preta x Cruzeiro foi um jogo equilibrado, modorrento, com muita marcação e pobreza criativa no ataque. O time celeste usou e abusou, assim como a Ponte, de chutes de fora da área, porque retrocedeu ofensivamente em relação às partidas anteriores.

Mozart Santos começou o jogo com uma inédita formação 4-1-4-1 (na coletiva pós-jogo, ele disse que era 4-3-3). Rômulo estava na lateral-direita; Flávio como único volante; dois meias centralizados: Giovanni e Marcinho; dois extremos: Felipe Augusto e Bruno José; Sóbis como centroavante. 

Na maior parte dos primeiros 45 minutos, a marcação alvinegra conseguiu evitar a produtividade celeste, seja pelos lados ou por dentro. E vice-versa: o Cruzeiro impediu a construção de lances ofensivos perigosos do adversário. A única boa chance no primeiro tempo surgiu dos pés de Marcinho: um forte chute que obrigou o goleiro da Ponte Preta a espalmar. Entretanto, nenhum dos dois times conseguiu finalizar de dentro da área do oponente na primeira etapa.

Se a estratégia de Mozart era encurralar a Ponte, não funcionou eficientemente. Disse na primeira coletiva que gosta de "atacar", de "ter a bola" e "empurrar o time para trás". Nesse jogo, contudo, a Ponte teve maior posse de bola: 58% a 42%. A formação inicial 4-1-4-1 (ou 4-3-3) indicava intenção de pôr em prática suas ideias de jogo. Todavia o sistema defensivo alvinegro, com três zagueiros, atrapalhou as pretensões do treinador azul. 

No segundo tempo, o técnico cruzeirense resolveu tirar o lateral-esquerdo Matheus Pereira para colocar o zagueiro Weverton. O time celeste passou a ter também três zagueiros. A formação se tornou 3-4-3. Houve progresso ofensivo, mas não muito significativo e ainda incapaz de "empurrar" o adversário. Na etapa final, a Ponte teve 68% da posse de bola.

Ainda bem que houve o gol inteligente de Bruno José. O gol que deu os primeiros três pontos ao time celeste. O gol que tira o Cruzeiro da zona de rebaixamento. O gol que afunda a Ponte Preta na lanterna.

Outro dado importante: pela primeira vez na competição, Cruzeiro não levou gol. Fábio trabalhou muito pouco. O que indica uma melhora defensiva em relação a jogos anteriores. Porém é preciso equilíbrio. Mozart povoou o meio-campo ofensivo. No entanto, nenhum dos meias deu passes precisos para Sóbis finalizar e, fora o lance do gol, e do chute de Marcinho, nenhum foi efetivamente perigoso ao gol de Ygor Vinhas. A qualidade do ataque não melhorou com essa construção tática. Méritos da defesa da Ponte Preta?

Me arrisco a dizer que esse foi um jogo de características semelhantes com a partida contra o Atlético, na primeira fase do Mineiro. Jogo equilibrado - muita marcação, pouquíssimas chances -, em que o gol saiu de uma jogada perspicaz. 

As sugestões de Medioli

Vittorio Medioli, empresário italiano naturalizado brasileiro, torcedor e "ex-CEO" do Cruzeiro, apresentou, em entrevista à rádio Itatiaia, propostas para tirar o clube da situação desastrosa em que se encontra. As duas supostas soluções serão possíveis apenas com transformação do clube de associação civil sem fins lucrativos para "clube-empresa".

Medioli sugeriu "refundação" como uma saída. Ou começar do zero. O paradigma dele é o clube-empresa Parma, da Itália, que faliu em 2015 e recomeçou na Série D. Depois de sucessos em divisões inferiores, chegou novamente à Série A. Na última temporada, caiu para a B novamente. 

Para uma refundação desse tipo ser possível com o Cruzeiro, o clube precisaria se tornar formalmente empresa e depois ter falência decretada. Talvez com isso, recomece nas profundezas das divisões nacionais. O que certamente desagradaria a torcida. 

O Parma refundado tinha como proprietários duas empresas: uma composta por sete empresários, que era a maior acionista; outra era formada por torcedores. Hoje um grupo empresarial norte-americano é dono de 90% do clube italiano.

Outra saída, segundo Medioli, seria a criação de um "Cruzeiro S.A" alheio ao Cruzeiro "associação civil". No Brasil, existe um exemplo notório de proposta semelhante a essa. 

Em 1998, o Esporte Clube Vitória (BA) criou o Vitória S/A, uma empresa com capital aberto com o objetivo de dirigir o futebol rubro-negro. Conseguiu obter investimento estrangeiro, mas o negócio não vingou. O clube retomou o controle do futebol (e de outros setores) dez anos depois. A empresa existe até hoje. Não pode ser fechada por causa das dívidas e encargos trabalhistas que possui.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

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