sábado, 31 de julho de 2021

Enfim, o fim da brevíssima Era Mozart

Mozart foi um dos piores treinadores (senão o pior) do Cruzeiro nos últimos anos

Durou 50 dias o emprego de Mozart Santos no comando do Cruzeiro. Foi um período de aleatoriedade e confusão tática, de inconstâncias na composição do time. O agora ex-técnico demonstrou falta de ideias. Ao contrário do que pode indicar o senso comum, colocar uma formação e escalação diferentes a cada rodada não significa abundância de ideias. O método "tentativa e erro" é usado por quem não sabe realmente o que fazer.

É a busca pela solução mediante "experimentação". Má ideia para um campeonato como a Série B. A confusão tática indicava um time do Cruzeiro completamente perdido no meio da competição. Resultado: o Z4, com riscos de parar na lanterna. Detalhe: já passou 1/4 do torneio. Havia a possibilidade de Mozart acertar a equipe, encontrar o padrão, mas ninguém sabia quando isso ocorreria, se é que ocorreria. Até isso acontecer, o Cruzeiro poderia estar ainda mais atolado na zona de rebaixamento, próximo da Série C.

Diante do Londrina, jogo que terminou empatado em 2 a 2, Mozart utilizou uma formação que não havia utilizado antes. Mais uma. Jogou no 3-4-1-2, que é uma variação do 3-4-3. Sóbis ficou mais recuado, jogando como meia central, um suposto armador. Marcelo Moreno não estava sozinho no ataque. Bruno José foi seu parceiro. A meu ver, a construção tática que privilegia dois atacantes é melhor para o centroavante boliviano render. A Seleção Boliviana já jogou no 4-4-2 e Moreno marcou gols, como marcou ontem. Jogando como atacante central, ele fica entre os zagueiros do time oponente. E sem habilidade e triangulação não tem como abrir espaço para ele marcar. Contudo, ao compor uma dupla de ataque, a pressão da marcação adversária não vai toda em cima dele. 

A formação do Cruzeiro no jogo contra o Londrina
Imagem: Printscreen do Sofascore

Infelizmente a equipe manteve fragilidade na defesa. Mozart não conseguiu resolver isso. Houve partidas com ele no comando em que o Cruzeiro deu sinais de progresso defensivo jogando no 3-4-3. A ilusão durou pouco. Temos a pior defesa da Série B. É um problema crônico que permanece seja jogando com o time mais fraco ou o mais forte. O Londrina é um dos escretes mais fracos da Série B, mas fez dois gols na meta de Fábio. 

Mozart não acertou a defesa e piorou o ataque. Sim, com ele o Cruzeiro chegou a ter o melhor ataque, por um breve momento. No entanto, quem assiste os jogos percebe que os métodos cruzeirenses de fazer gols são irregulares e com pouca qualidade técnica. A falta de criatividade ofensiva é patente e chega a ser irritante. Hoje o time não está nem entre as cinco equipes que mais fizeram gols. 

É o legado que deixa para o próximo treinador. Felipe Conceição teve uma passagem desastrosa, mas com ele o Cruzeiro teve um leve progresso ofensivo. O potencial da equipe de "tigrão" em criar "grandes chances de gol" era maior do que o da equipe do recém demissionário treinador. 

Nenhum dos dois vai deixar saudades. Os números não mentem: Mozart foi um dos piores treinadores (senão o pior) do Cruzeiro nos últimos anos. Ele apareceu como um profissional promissor no ano passado, após quase levar o CSA ao acesso para a Série A. Entretanto, sua breve e péssima trajetória no Cruzeiro pode ter maculado essa percepção.  

Roni Pereira, jornalista de Salvador/BA

domingo, 25 de julho de 2021

A Loteria de Mozart

O MEIA MARCINHO não jogou no empate em 0 a 0, entre Vila Nova e Cruzeiro, pela 14ª rodada da Série B. O camisa 11 celeste talvez seja o melhor jogador do time no momento. Essa falta de continuidade nas formações e escalações utilizadas pelo treinador Mozart denuncia a sua escassez de ideias consistentes. Ele parece não saber o que fazer e está buscando soluções com "experimentações". Está usando do método "tentativa e erro", em pleno campeonato. Como está errando, muda a tática a cada partida.

Na partida contra o time goiano, o Cruzeiro jogou no 3-4-3, uma formação diferente da utilizada no jogo anterior, contra o Remo. Ora o time joga com dois zagueiros, ora com três zagueiros. Ora com laterais, ora com alas. Um determinado jogador pode ir de titular a nem relacionado de uma partida a outra. Devemos essa variedade quase atroz à instituição conhecida como Loteria de Mozart.

Sim, a torcida já está fazendo piada com essa instabilidade tática. Com uma escalação diferente a cada jogo, Mozart parece escolher 10 jogadores iniciais mediante sorteio. Só temos certeza que o goleiro Fábio é titular. Quanto ao restante, sequer sabemos quem de fato é titular e quem não é. 


Logo após a derrota do Brasil diante da Itália, na Copa de 1982, o grande jornalista João Saldanha criticou problema semelhante naquela equipe brasileira. Na época, se dizia que "todos [os jogadores daquela seleção] são efetivos, todos são reservas". Eram "palavras vãs", segundo Saldanha.

Mozart ainda não disse algo do tipo. Mas ele nem precisa. Suas formações táticas que mudam a cada rodada são vãs por si e tornam dispensável qualquer declaração. Na busca pela equipe ideal, ele vai tentando e errando, enquanto o time se afunda na zona de rebaixamento da Série B. Nesta rodada, correu o risco de parar na lanterna. Confiança foi derrotado, o que afastou mais esse vexame. Por ora.

É possível Mozart encontrar, depois de tantas tentativas e jogos vexaminosos, o time competitivo? Sim. E nós, torcedores do Cruzeiro, estamos torcendo fervorosamente para que ele consiga logo. O problema é: se existe essa possibilidade, quanto tempo vai levar? Não sabemos. Até ele conseguir, o time pode estar afundado no Z4, quiça na lanterna, sabe se lá a quantos pontos do 16º colocado. Ninguém (que é cruzeirense) quer esperar ou pagar para ver isso acontecer. 

Nem estaríamos discutindo ainda sobre a capacidade de Mozart, se não fosse a regra que limita a troca de técnico no campeonato. Se permanecesse o regulamento passado, provável que ele estivesse demitido ou talvez até teria entregue o cargo. Com a nova norma, nem a diretoria quer demitir (para o clube não ser obrigado a efetivar um funcionário da agremiação pelo resto da Série B), nem o treinador quer pedir para sair (só pode pedir demissão uma única vez). Enquanto isso, o Cruzeiro vai se mantendo no Z4 até Mozart conseguir achar a formação e a escalação ideais.  

Roni Pereira, jornalista de Salvador/BA

terça-feira, 20 de julho de 2021

Cruzeiro leva mais um golaço na Série B

Jogar contra a equipe de Mozart Santos é uma boa ideia para quem quer concorrer ao Prêmio Puskás

Logo após o jogo entre Remo e Cruzeiro, em que o time celeste perdeu por 1 a 0 no Pará, Rafael Sóbis, em entrevista ao Sportv/Premiere, disse: "se pegar os dez gols mais bonitos da Série B, oito foram contra a gente". É uma hipérbole do atacante, mas tem fundo de verdade. Nessa Série B, Cruzeiro levou golaços do CRB, do CSA, do Guarani, do Remo... Até de si mesmo! O lateral-direito Joseph bizarramente usou o peito para fazer um golaço contra na partida diante do Goiás. Jogar contra a equipe de Mozart Santos é uma boa ideia para quem quer concorrer ao Prêmio Puskás.

Nesta terça-feira (20/07), em outra partida constrangedora, o Cruzeiro levou mais um gol de placa. O Remo encontrou espaço no lado esquerdo azul. O lateral-direito Thiago Ennes recebeu o passe, deslizou na avenida e cruzou para Victor Andrade pegar bonito, de primeira. A bola passou entre dois jogadores celestes e foi no gol, sem chances para o goleiro Fábio. O autor balançou a rede pela primeira vez nessa Série B. É apenas a terceira partida dele com a camisa azulina. 

Sóbis dando entrevista ao Premiere
Imagem: printscreen do GE

Há quase 27 anos, outro jogador do Remo se consagrava diante do Cruzeiro: o atacante Helinho. Naquela fatídica goleada de 5 a 1 em cima do time celeste, em pleno Mineirão, na fase de Repescagem do Campeonato Brasileiro de 1994, ele marcou quatro gols. Em 23 jogos na Primeira Divisão daquele ano, Helinho marcou 7 gols. Ou seja, só contra o Maior de Minas ele balançou a rede mais do que em todos os outros 22 jogos. 

Em 2021, lamentavelmente os adversários têm feito do campo de defesa do Cruzeiro um playground. E o confuso Mozart não está conseguindo corrigir plenamente esse problema que vem desde Felipe Conceição. Com o atual técnico, o escrete deu sinais de melhora defensiva em algumas partidas. Mas em outras... Contra Botafogo, CSA, CRB, Guarani e Avaí, a atuação defensiva foi desastrosa. Essas equipes juntas marcaram 15 gols nas metas de Fábio e Lucas França. O time permanece com o lastimoso status de "pior defesa". 

Roni Pereira, jornalista de Salvador/BA

domingo, 18 de julho de 2021

Outra derrota vergonhosa

A Humilhação, romance de Philip Roth publicado em 2009, serve como métafora para explicar a vexaminosa situação do Cruzeiro na Série B. Facilmente derrotado no Mineirão pelo Avaí, por 3 a 0, o time chegou à sexta partida consecutiva sem vitória - quatro empates e duas derrotas. Tá ali pertinho da zona de rebaixamento, na 16ª posição. Não há nenhuma perspectiva de melhora e o torcedor está se acostumando à ideia de que o escrete celeste não vai subir, mas meramente irá brigar para não cair para a Série C.

No livro de Roth, o protagonista se chama Simon Axler, um brilhante ator de teatro. Ou era. De repente e de forma inexplicável, ele perde o talento. A partir daí, vem a derrocada, "a humilhação". Atuações ruins no palco, massacre da crítica, o que culmina com ele solitário, depressivo e internado, voluntariamente, num hospital psiquiátrico. 

O Cruzeiro passa por roteiro parecido. É um clube com história gloriosa. Já em 1966, massacrou o Santos de Pelé em plena final de Taça Brasil, entre outros grandes feitos ao longo da história do futebol brasileiro e mundial. Nem fez três anos o bicampeonato consecutivo da Copa do Brasil, o sexto no total, que o faz o maior campeão. Isso leva alguns a pensarem: como pode haver uma derrocada repentina assim?

Diferentemente da perda de talento do ator no livro de Roth, a degradação do Cruzeiro tem explicação: gestões perdulárias, corruptas e incompetentes. Tantos anos de irresponsabilidade fiscal, de uma estrutura política falida, de erros na montagem de escretes e de crimes não poderiam passar impunemente. O presidente Sérgio Rodrigues, que chegou com uma proposta de "Novo Cruzeiro", prossegue com velhos equívocos, tornando o clube cada vez mais vexaminoso. 

O torcedor não se empolgou com a chegada do treinador Mozart Santos, cujo feito mais "brilhante" foi o quase acesso do CSA na Série B passada. Até o momento ele não contrariou a máxima do Barão de Itararé: "de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo". E nem dá sinais de que vai. Não conseguiu sequer manter uma constância tática. Todo jogo é uma formação diferente, variando também a escalação. Dois zagueiros, três zagueiros, três atacantes, quatro atacantes... O homem não tem a menor ideia do que fazer com esse time. Está usando do método "tentativa e erro". E só erra. A frieza dos números demonstra: a equipe atual consegue ser pior que a do ano passado. 

Espero que o Cruzeiro não tenha o mesmo destino do protagonista de "A Humilhação". Spoiler: ele nunca mais voltou a ser um grande ator. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

domingo, 11 de julho de 2021

A volta do flecheiro?

Para manter as boas atuações, Moreno depende de um meio-campo criativo


Jogadores comemoram o terceiro gol do Cruzeiro
Imagem: printscreen do GE


Marcelo Moreno balançou a rede duas vezes. Atingiu a marca de 51 gols com a camisa do Cruzeiro e se tornou o maior artilheiro estrangeiro da história do clube. Sua atuação foi um "ponto fora da curva" ou a volta do flecheiro? S
ó saberemos nas próximas partidas. No entanto, podemos conjecturar com base no próprio jogo e no histórico do time.

O ponto positivo na atuação de Moreno ontem foi a sua motivação. Era notável a sua vontade de fazer o Cruzeiro reagir. Apesar de pobre tecnicamente, o time celeste tem demonstrado uma força de reação que não vimos com frequência no ano passado. Diante do Botafogo, o centroavante foi a cara dessa motivação. E acabou premiado com dois gols.

Há um paradoxo no Cruzeiro. O time tem um dos melhores ataques, mas sofre com pobreza de criação ofensiva. Dois dos gols do time de Mozart Santos, no empate em 3 a 3 contra o Botafogo, não foram oriundos de jogadas bem construídas. 

Moreno fez o segundo gol do Cruzeiro, para igualar o placar, dessa vez em 2 a 2, graças ao rebote de um pênalti. Bateu e o goleiro defendeu. Por um segundo, o cruzeirense pensou: "Cruzeiro não faz nem de pênalti?!". Mas o centroavante boliviano teve a sorte de a bola ter sido rebatida de volta para ele, que não perdoou. Gol de número 50. Naquele momento, Moreno empatava com o uruguaio Arrascaeta no topo do ranking de estrangeiros que mais marcaram gols com a camisa do Cruzeiro. 

O gol de número 51, o terceiro do Cruzeiro para virar a partida por 3 a 2, resultou de uma jogada de ataque iniciada pela esquerda. Podemos dizer que foi uma jogada bem construída.

O meia Marcinho deu um passe preciso para Wellington Nem, que sairia na cara do gol. O goleiro do Botafogo foi mais rápido e cortou a jogada. Cortou mal, pois deu outro rebote para Moreno pegar de primeira, da entrada da área e acertar o ângulo. Um golaço. "Gol de artilheiro!", disse o narrador Luís Roberto, da TV Globo.

Marcinho é o cérebro do meio-campo cruzeirense. Ele é construtor de algumas das poucas boas jogadas que o time celeste cria. Se Mozart conseguir fazer dele o que os meias Arce e Saavedra são para Moreno na Seleção da Bolívia, haverá potencial para o camisa 9 do Cruzeiro se destacar na Série B. Nas Eliminatórias, quase todos os gols do artilheiro foram com assistências. Centroavante funciona com meias competentes.

Agora um detalhe incômodo: o terceiro gol foi resultante de contra-ataque. O Botafogo havia deixado espaços. O problema é que o Cruzeiro vai continuar enfrentando times bem postados atrás. Criar espaços no meio da marcação adversária ainda é o grande desafio.

É a primeira vez nessa terceira passagem que Marcelo Moreno jogou como um matador. Nessa partida, vimos uma característica dos bons atacantes centrais: o oportunismo. Porém, para manter as boas atuações, ele depende de um meio-campo criativo.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Cruzeiro não tem ataque, tem um amontoado de jogadores


O esquema 4-2-4 | imagem: The Ball is Square

Durante o segundo tempo, Mozart Santos empilhou o campo defensivo adversário de atacantes. Nos minutos finais, o Cruzeiro estava com uma linha de quatro na frente. Mas o que se viu foi uma balbúrdia e não um "ataque". Pateticamente, o escrete se manteve inofensivo. 

A formação do Cruzeiro chegou a se tornar 4-2-4. É uma formação histórica, utilizada por grandes times e seleções. A Seleção Brasileira de 1970 jogou com essa construção tática na Copa do Mundo. Deu certo, por causa dos jogadores extraordinários que possuía.

(Peço perdão ao raro leitor pela justaposição entre o Brasil de 1970 e o Cruzeiro atual).

Hoje é a formação do desespero. Quando um time não consegue fazer gol no adversário o jogo inteiro e quer balançar a rede a qualquer custo, usa do 4-2-4. Não funcionou. Poderia ter sido eficaz em contra-ataques, pegando o oponente desprevenido. 

Mas o Coritiba foi defensivamente seguro, apesar de ter dado uma brecha no primeiro tempo. Lacuna que Bruno José não aproveitou. Chutou rasteiro e Wilson defendeu. A bandeira foi equivocadamente levantada. Com ou sem impedimento, é um Cruzeiro que cria poucas "grandes chances" e quando as cria, desperdiça.

Ademais, o Coritiba foi mais perigoso na etapa final. Botou bola na trave. Seja com um centroavante, dois, três, quatro atacantes, o Cruzeiro permanece inofensivo, incapaz de incomodar pra valer o goleiro. São raríssimas as oportunidades.

O roteiro sempre se repete diante de times reativos (a maioria dos adversários). Uma possível solução seria a infiltração na marcação mediante troca de passes rápidos e/ou dribles que pudessem abrir espaço. Cruzeiro não tem capacidade de fazer uma coisa, nem outra. O time celeste não sabe fazer uma simples triangulação. Não há inteligência. É um escrete comum de Série B, talvez pior.

A conclusão é bem simples. Em uma equipe com dificuldade atroz em criação de jogadas de ataque, não adianta colocar mais jogadores de frente. O problema é a (má) qualidade, não a quantidade. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

domingo, 4 de julho de 2021

Filme repetido

Um time com postura medíocre diante do Brasil de Pelotas só aumenta mais a desconfiança que a torcida tem com o técnico Mozart Santos. Ainda que alguns insistam em dizer que o Cruzeiro tem que se preocupar apenas em não cair para a Série C, certamente ninguém da China Azul está gostando do futebol apresentado, insuficiente até para evitar sufoco na briga contra o rebaixamento para a Terceira Divisão.

Passados sete jogos, Mozart não demonstrou ser muito distinto de seus antecessores: o time celeste não conquistou uma evolução significativa. Está ofensivamente inofensivo - e em relação a isso eu considero retrocesso, pois a equipe de Felipe Conceição era relativamente mais criativa no ataque. A defesa é a pior da competição. Uma combinação desastrosa, de candidato a rebaixamento. A única diferença é a estrutura tática, que foge um pouco do que foi utilizado pelos antecessores. Ele usa três zagueiros, por exemplo. Por enquanto, insuficiente. Não foi capaz, por ora, de lidar com erros individuais comprometedores. Seja com dois ou três zagueiros, não há plena segurança. Pela atual conjuntura, a tendência é o olho da rua e o Cruzeiro terá que usar interino pelo resto do campeonato.

O jogo contra o Brasil de Pelotas foi um filme repetido. E ruim. Reflete a (má) qualidade de um time que nunca chegou nem ao G4 da Série B. Não figurou sequer na primeira página da tabela. Há quem mencione as "limitações" para explicar o fracasso. Não entro nessa. Nenhuma limitação é absoluta. O Cruzeiro pode ser "limitado" diante de determinados times, mas não de outros. O Brasil de Pelotas não tem um elenco melhor. Mesmo assim, tal diferença de folha salarial não se manifesta dentro das quatro linhas. Porém, o dinheiro compra necessariamente uma "estrutura de ataque coeso"?

É evidente que times mais fracos e defensivamente bem postados impõem obstáculos hercúleos para escretes melhores. Todavia, se uma equipe em tese com superioridade técnica não consegue fazer gols nessas retrancas competentemente montadas, significa também que há pelo menos um problema na sua estrutura ofensiva. Se o adversário não deixa espaços atrás, é preciso construí-los. Se não consegue, o time fica com muitas dificuldades de triunfo, mesmo com um elenco "superior".

A meu ver, este é um dos mais graves problemas que o Cruzeiro sofre: a falta de uma estrutura de ataque coeso. O jornalista inglês Jonathan Wilson costuma utilizar desse termo. Segundo ele, é o que distingue as boas equipes das equipes comuns. É o necessário para atravessar defesas bem montadas. De todos os treinadores do Cruzeiro, Felipe Conceição foi o que chegou mais perto de conseguir. A sua formação tática deixava o time exposto, porém mais construtivo ofensivamente. Apesar de não ter sido muito significativo.

Mozart Santos parece ter desconstruído o pouco que Felipe Conceição criou. O time retrocedeu na criatividade do ataque, quando deveria ter melhorado. Alguém pode objetar dizendo que com Mozart o Cruzeiro chegou ao status de "melhor ataque" (Náutico já passou na frente). É um dado ilusório. Basta olhar o ranking das "grandes chances criadas" e o ranking das "grandes chances perdidas" - ambos criados pelo aplicativo SofaScore - e observar que o Cruzeiro fez relativamente muitos gols, mas paradoxalmente sofre com pobreza criativa, além de desperdiçar algumas das poucas "grandes chances" que tem. O artilheiro do time é um volante. Se não melhorar, vai acabar decaindo e logo não estará nem entre os cinco melhores ataques.

Quando o time não tem uma qualidade de criação, aposta-se na habilidade individual para vencer a defesa bem postada. Cruzeiro não tem uma coisa, nem outra. Dos 13 gols, 7 foram de cabeça. Algumas poucas jogadas talentosas oriundas de jogadores nada talentosos ajudaram o time a balançar a rede. Infelizmente são jogadores "altos e baixos", que não conseguem ser regulares. E nem sempre o uso do jogo aéreo para fazer gols irá funcionar, como ficou demonstrado na partida contra o Brasil de Pelotas. 

Os principais métodos ofensivos do Cruzeiro são tecnicamente pobres ou irregulares.  

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Cruzeiro tem o melhor ataque e a pior defesa da Série B

Jogadores do Cruzeiro comemoram o segundo gol
Imagem: printscreen do GE

Cruzeiro empatou com o Guarani em 3 a 3, no Mineirão. Chegou a 13 gols marcados na Série B 2021. O melhor ataque. Porém também chegou a 16 gols sofridos. A pior defesa. Desequilíbrio atroz, o que mantém o time pertinho do Z4.

Venho comentando que com Mozart Santos o time teve progresso defensivo e retrocesso ofensivo desde que implementou a formação tática 3-4-3, que varia para 5-4-1 quando a equipe precisa se defender. A melhora na defesa e retrocesso no ataque são relativos, comparados com o desempenho do time de Felipe Conceição nas duas primeiras rodadas. Todavia, não indica que a defesa atingiu o ideal que se exige para a disputa de um campeonato como a Série B. O escrete celeste ainda está distante disso.

Quem assistiu as partidas contra Operário e Ponte Preta sabe do que estou falando quando menciono "melhora" no sistema defensivo. Principalmente contra o time paranaense, hoje sexto colocado, em que o Cruzeiro resistiu defensivamente no segundo tempo por 39 minutos, com um a menos. Até que levou o gol do empate: um chute de fora da área que Fábio não conseguiu defender após ter escorregado na lama.

Desde o jogo do Vasco, no entanto, o time celeste vem dando sinais de queda no rendimento do desempenho atrás. O time cruzmaltino não soube aproveitar os deslizes cruzeirenses. O CSA soube aproveitar as mancadas individuais e triunfou. Diante do Guarani, o treinador celeste voltou a usar o 4-1-4-1 e levou três gols. Seja com dois zagueiros ou com três, a defesa continua vacilante, consagrando até o meio-campista Régis, que jogou pouca bola quando esteve na Toca. O problema não está na "forma", como já dissemos, mas no "conteúdo".

Dessas 16 bolas na rede que o Cruzeiro levou, sete foram sob o comando de Felipe Conceição. E em dois jogos. Mozart Santos levou nove gols em sete pelejas. A média do atual treinador cruzeirense era um gol tomado por partida. Melhora patente. Agora já está em quase 1,3. Piora.

Cruzeiro é um time oscilante, irregular. O que é perigoso, pois times irregulares não fazem boas campanhas em campeonatos de pontos corridos. No entanto, o time demonstra uma específica e interessante regularidade: marcou gols em todos os jogos da Série B. A equipe de Mozart sofre com jogadores de qualidade duvidosa tanto na frente quanto atrás. Entretanto os homens de ataque estão mostrando serviço. Mas...

Números enganosos

Contra o Guarani, o Cruzeiro marcou três gols de cabeça. E tornou-se dono do melhor ataque. Engana-se quem pensa que isso indica um poder ofensivo necessariamente intimidador, eficaz. Não mesmo, pelo menos ainda. Quem assistiu viu a pobreza criativa do ataque cruzeirense. Segundo o SofaScore, é a décima equipe mais perigosa da Série B com nove "grandes chances" criadas, sendo que três são obras do time de Felipe Conceição. No jogo contra o time de Campinas, balançou as redes com um método muito comum na temporada passada.

Dos 39 gols marcados pelo Cruzeiro na Série B de 2020, 18 foram de cabeça. A bola aérea foi uma das principais armas daquele time com criação ofensiva pobre. Esse ano, os mesmos problemas prosseguem. Com um ataque inofensivo pelo chão, o time de Mozart Santos encontrou no ar o caminho para marcar 3 gols. Aliás dos 13 gols feitos na atual competição, 7 foram cabeceando.

Importante destacar que o artilheiro do time no torneio é um volante, Matheus Barbosa, com 4 bolas na rede. E ele fez um dos gols do time no jogo desta quarta-feira (30/06). Quem fez outro foi o novo zagueiro, Léo Santos, que demonstrou potencial para ser um sucessor de Manoel como "zagueiro goleador". O primeiro gol cruzeirense foi um gol contra do Guarani. Nenhum atacante marcou na partida (Thiago desperdiçou a chance que teve no segundo tempo), embora Marcinho e Sóbis tenham dado assistências com cobranças de escanteio.

Com a persistência de problemas criativos, o que resulta em centroavantes inócuos, por exemplo, a tendência é gerar um modelo ofensivo ainda mais ineficaz. O que indica um risco de surgir dificuldades maiores em fazer gols. Hoje o time possui o melhor ataque, porém tal dado não se correlaciona com a quantidade de "grandes chances" produzidas (time tem o melhor ataque, mas está em décimo lugar, uma colocação medíocre, no ranking dos times mais perigosamente ofensivos, além de ter desperdiçado quase 45% dessas boas chances).

Mozart precisa buscar aquilo que o jornalista inglês Jonathan Wilson chama de "estrutura de ataque coeso". Felipe Conceição foi o treinador que chegou mais perto de produzir algo do tipo, apesar de não ter sido muito significativo. Entrosamento, troca rápida de passes para atravessar marcação... Régis fez um golaço desse jeito. O Cruzeiro precisa aprender.

Problemas fora das quatro linhas também precisam ser resolvidos. Salários atrasados, variações frequentes de elenco, nova punição que impede novos registros de jogadores... não sabemos o quanto, mas tudo isso certamente influi dentro de campo.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

A Cartomante

Eram 22 horas. No bar Antipelego, a conversa regada a cerveja e a cachaça era comandada por trabalhadores da construção civil. Depois de dez...