domingo, 4 de julho de 2021

Filme repetido

Um time com postura medíocre diante do Brasil de Pelotas só aumenta mais a desconfiança que a torcida tem com o técnico Mozart Santos. Ainda que alguns insistam em dizer que o Cruzeiro tem que se preocupar apenas em não cair para a Série C, certamente ninguém da China Azul está gostando do futebol apresentado, insuficiente até para evitar sufoco na briga contra o rebaixamento para a Terceira Divisão.

Passados sete jogos, Mozart não demonstrou ser muito distinto de seus antecessores: o time celeste não conquistou uma evolução significativa. Está ofensivamente inofensivo - e em relação a isso eu considero retrocesso, pois a equipe de Felipe Conceição era relativamente mais criativa no ataque. A defesa é a pior da competição. Uma combinação desastrosa, de candidato a rebaixamento. A única diferença é a estrutura tática, que foge um pouco do que foi utilizado pelos antecessores. Ele usa três zagueiros, por exemplo. Por enquanto, insuficiente. Não foi capaz, por ora, de lidar com erros individuais comprometedores. Seja com dois ou três zagueiros, não há plena segurança. Pela atual conjuntura, a tendência é o olho da rua e o Cruzeiro terá que usar interino pelo resto do campeonato.

O jogo contra o Brasil de Pelotas foi um filme repetido. E ruim. Reflete a (má) qualidade de um time que nunca chegou nem ao G4 da Série B. Não figurou sequer na primeira página da tabela. Há quem mencione as "limitações" para explicar o fracasso. Não entro nessa. Nenhuma limitação é absoluta. O Cruzeiro pode ser "limitado" diante de determinados times, mas não de outros. O Brasil de Pelotas não tem um elenco melhor. Mesmo assim, tal diferença de folha salarial não se manifesta dentro das quatro linhas. Porém, o dinheiro compra necessariamente uma "estrutura de ataque coeso"?

É evidente que times mais fracos e defensivamente bem postados impõem obstáculos hercúleos para escretes melhores. Todavia, se uma equipe em tese com superioridade técnica não consegue fazer gols nessas retrancas competentemente montadas, significa também que há pelo menos um problema na sua estrutura ofensiva. Se o adversário não deixa espaços atrás, é preciso construí-los. Se não consegue, o time fica com muitas dificuldades de triunfo, mesmo com um elenco "superior".

A meu ver, este é um dos mais graves problemas que o Cruzeiro sofre: a falta de uma estrutura de ataque coeso. O jornalista inglês Jonathan Wilson costuma utilizar desse termo. Segundo ele, é o que distingue as boas equipes das equipes comuns. É o necessário para atravessar defesas bem montadas. De todos os treinadores do Cruzeiro, Felipe Conceição foi o que chegou mais perto de conseguir. A sua formação tática deixava o time exposto, porém mais construtivo ofensivamente. Apesar de não ter sido muito significativo.

Mozart Santos parece ter desconstruído o pouco que Felipe Conceição criou. O time retrocedeu na criatividade do ataque, quando deveria ter melhorado. Alguém pode objetar dizendo que com Mozart o Cruzeiro chegou ao status de "melhor ataque" (Náutico já passou na frente). É um dado ilusório. Basta olhar o ranking das "grandes chances criadas" e o ranking das "grandes chances perdidas" - ambos criados pelo aplicativo SofaScore - e observar que o Cruzeiro fez relativamente muitos gols, mas paradoxalmente sofre com pobreza criativa, além de desperdiçar algumas das poucas "grandes chances" que tem. O artilheiro do time é um volante. Se não melhorar, vai acabar decaindo e logo não estará nem entre os cinco melhores ataques.

Quando o time não tem uma qualidade de criação, aposta-se na habilidade individual para vencer a defesa bem postada. Cruzeiro não tem uma coisa, nem outra. Dos 13 gols, 7 foram de cabeça. Algumas poucas jogadas talentosas oriundas de jogadores nada talentosos ajudaram o time a balançar a rede. Infelizmente são jogadores "altos e baixos", que não conseguem ser regulares. E nem sempre o uso do jogo aéreo para fazer gols irá funcionar, como ficou demonstrado na partida contra o Brasil de Pelotas. 

Os principais métodos ofensivos do Cruzeiro são tecnicamente pobres ou irregulares.  

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

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