quinta-feira, 1 de julho de 2021

Cruzeiro tem o melhor ataque e a pior defesa da Série B

Jogadores do Cruzeiro comemoram o segundo gol
Imagem: printscreen do GE

Cruzeiro empatou com o Guarani em 3 a 3, no Mineirão. Chegou a 13 gols marcados na Série B 2021. O melhor ataque. Porém também chegou a 16 gols sofridos. A pior defesa. Desequilíbrio atroz, o que mantém o time pertinho do Z4.

Venho comentando que com Mozart Santos o time teve progresso defensivo e retrocesso ofensivo desde que implementou a formação tática 3-4-3, que varia para 5-4-1 quando a equipe precisa se defender. A melhora na defesa e retrocesso no ataque são relativos, comparados com o desempenho do time de Felipe Conceição nas duas primeiras rodadas. Todavia, não indica que a defesa atingiu o ideal que se exige para a disputa de um campeonato como a Série B. O escrete celeste ainda está distante disso.

Quem assistiu as partidas contra Operário e Ponte Preta sabe do que estou falando quando menciono "melhora" no sistema defensivo. Principalmente contra o time paranaense, hoje sexto colocado, em que o Cruzeiro resistiu defensivamente no segundo tempo por 39 minutos, com um a menos. Até que levou o gol do empate: um chute de fora da área que Fábio não conseguiu defender após ter escorregado na lama.

Desde o jogo do Vasco, no entanto, o time celeste vem dando sinais de queda no rendimento do desempenho atrás. O time cruzmaltino não soube aproveitar os deslizes cruzeirenses. O CSA soube aproveitar as mancadas individuais e triunfou. Diante do Guarani, o treinador celeste voltou a usar o 4-1-4-1 e levou três gols. Seja com dois zagueiros ou com três, a defesa continua vacilante, consagrando até o meio-campista Régis, que jogou pouca bola quando esteve na Toca. O problema não está na "forma", como já dissemos, mas no "conteúdo".

Dessas 16 bolas na rede que o Cruzeiro levou, sete foram sob o comando de Felipe Conceição. E em dois jogos. Mozart Santos levou nove gols em sete pelejas. A média do atual treinador cruzeirense era um gol tomado por partida. Melhora patente. Agora já está em quase 1,3. Piora.

Cruzeiro é um time oscilante, irregular. O que é perigoso, pois times irregulares não fazem boas campanhas em campeonatos de pontos corridos. No entanto, o time demonstra uma específica e interessante regularidade: marcou gols em todos os jogos da Série B. A equipe de Mozart sofre com jogadores de qualidade duvidosa tanto na frente quanto atrás. Entretanto os homens de ataque estão mostrando serviço. Mas...

Números enganosos

Contra o Guarani, o Cruzeiro marcou três gols de cabeça. E tornou-se dono do melhor ataque. Engana-se quem pensa que isso indica um poder ofensivo necessariamente intimidador, eficaz. Não mesmo, pelo menos ainda. Quem assistiu viu a pobreza criativa do ataque cruzeirense. Segundo o SofaScore, é a décima equipe mais perigosa da Série B com nove "grandes chances" criadas, sendo que três são obras do time de Felipe Conceição. No jogo contra o time de Campinas, balançou as redes com um método muito comum na temporada passada.

Dos 39 gols marcados pelo Cruzeiro na Série B de 2020, 18 foram de cabeça. A bola aérea foi uma das principais armas daquele time com criação ofensiva pobre. Esse ano, os mesmos problemas prosseguem. Com um ataque inofensivo pelo chão, o time de Mozart Santos encontrou no ar o caminho para marcar 3 gols. Aliás dos 13 gols feitos na atual competição, 7 foram cabeceando.

Importante destacar que o artilheiro do time no torneio é um volante, Matheus Barbosa, com 4 bolas na rede. E ele fez um dos gols do time no jogo desta quarta-feira (30/06). Quem fez outro foi o novo zagueiro, Léo Santos, que demonstrou potencial para ser um sucessor de Manoel como "zagueiro goleador". O primeiro gol cruzeirense foi um gol contra do Guarani. Nenhum atacante marcou na partida (Thiago desperdiçou a chance que teve no segundo tempo), embora Marcinho e Sóbis tenham dado assistências com cobranças de escanteio.

Com a persistência de problemas criativos, o que resulta em centroavantes inócuos, por exemplo, a tendência é gerar um modelo ofensivo ainda mais ineficaz. O que indica um risco de surgir dificuldades maiores em fazer gols. Hoje o time possui o melhor ataque, porém tal dado não se correlaciona com a quantidade de "grandes chances" produzidas (time tem o melhor ataque, mas está em décimo lugar, uma colocação medíocre, no ranking dos times mais perigosamente ofensivos, além de ter desperdiçado quase 45% dessas boas chances).

Mozart precisa buscar aquilo que o jornalista inglês Jonathan Wilson chama de "estrutura de ataque coeso". Felipe Conceição foi o treinador que chegou mais perto de produzir algo do tipo, apesar de não ter sido muito significativo. Entrosamento, troca rápida de passes para atravessar marcação... Régis fez um golaço desse jeito. O Cruzeiro precisa aprender.

Problemas fora das quatro linhas também precisam ser resolvidos. Salários atrasados, variações frequentes de elenco, nova punição que impede novos registros de jogadores... não sabemos o quanto, mas tudo isso certamente influi dentro de campo.

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

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