domingo, 25 de julho de 2021

A Loteria de Mozart

O MEIA MARCINHO não jogou no empate em 0 a 0, entre Vila Nova e Cruzeiro, pela 14ª rodada da Série B. O camisa 11 celeste talvez seja o melhor jogador do time no momento. Essa falta de continuidade nas formações e escalações utilizadas pelo treinador Mozart denuncia a sua escassez de ideias consistentes. Ele parece não saber o que fazer e está buscando soluções com "experimentações". Está usando do método "tentativa e erro", em pleno campeonato. Como está errando, muda a tática a cada partida.

Na partida contra o time goiano, o Cruzeiro jogou no 3-4-3, uma formação diferente da utilizada no jogo anterior, contra o Remo. Ora o time joga com dois zagueiros, ora com três zagueiros. Ora com laterais, ora com alas. Um determinado jogador pode ir de titular a nem relacionado de uma partida a outra. Devemos essa variedade quase atroz à instituição conhecida como Loteria de Mozart.

Sim, a torcida já está fazendo piada com essa instabilidade tática. Com uma escalação diferente a cada jogo, Mozart parece escolher 10 jogadores iniciais mediante sorteio. Só temos certeza que o goleiro Fábio é titular. Quanto ao restante, sequer sabemos quem de fato é titular e quem não é. 


Logo após a derrota do Brasil diante da Itália, na Copa de 1982, o grande jornalista João Saldanha criticou problema semelhante naquela equipe brasileira. Na época, se dizia que "todos [os jogadores daquela seleção] são efetivos, todos são reservas". Eram "palavras vãs", segundo Saldanha.

Mozart ainda não disse algo do tipo. Mas ele nem precisa. Suas formações táticas que mudam a cada rodada são vãs por si e tornam dispensável qualquer declaração. Na busca pela equipe ideal, ele vai tentando e errando, enquanto o time se afunda na zona de rebaixamento da Série B. Nesta rodada, correu o risco de parar na lanterna. Confiança foi derrotado, o que afastou mais esse vexame. Por ora.

É possível Mozart encontrar, depois de tantas tentativas e jogos vexaminosos, o time competitivo? Sim. E nós, torcedores do Cruzeiro, estamos torcendo fervorosamente para que ele consiga logo. O problema é: se existe essa possibilidade, quanto tempo vai levar? Não sabemos. Até ele conseguir, o time pode estar afundado no Z4, quiça na lanterna, sabe se lá a quantos pontos do 16º colocado. Ninguém (que é cruzeirense) quer esperar ou pagar para ver isso acontecer. 

Nem estaríamos discutindo ainda sobre a capacidade de Mozart, se não fosse a regra que limita a troca de técnico no campeonato. Se permanecesse o regulamento passado, provável que ele estivesse demitido ou talvez até teria entregue o cargo. Com a nova norma, nem a diretoria quer demitir (para o clube não ser obrigado a efetivar um funcionário da agremiação pelo resto da Série B), nem o treinador quer pedir para sair (só pode pedir demissão uma única vez). Enquanto isso, o Cruzeiro vai se mantendo no Z4 até Mozart conseguir achar a formação e a escalação ideais.  

Roni Pereira, jornalista de Salvador/BA

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