domingo, 18 de julho de 2021

Outra derrota vergonhosa

A Humilhação, romance de Philip Roth publicado em 2009, serve como métafora para explicar a vexaminosa situação do Cruzeiro na Série B. Facilmente derrotado no Mineirão pelo Avaí, por 3 a 0, o time chegou à sexta partida consecutiva sem vitória - quatro empates e duas derrotas. Tá ali pertinho da zona de rebaixamento, na 16ª posição. Não há nenhuma perspectiva de melhora e o torcedor está se acostumando à ideia de que o escrete celeste não vai subir, mas meramente irá brigar para não cair para a Série C.

No livro de Roth, o protagonista se chama Simon Axler, um brilhante ator de teatro. Ou era. De repente e de forma inexplicável, ele perde o talento. A partir daí, vem a derrocada, "a humilhação". Atuações ruins no palco, massacre da crítica, o que culmina com ele solitário, depressivo e internado, voluntariamente, num hospital psiquiátrico. 

O Cruzeiro passa por roteiro parecido. É um clube com história gloriosa. Já em 1966, massacrou o Santos de Pelé em plena final de Taça Brasil, entre outros grandes feitos ao longo da história do futebol brasileiro e mundial. Nem fez três anos o bicampeonato consecutivo da Copa do Brasil, o sexto no total, que o faz o maior campeão. Isso leva alguns a pensarem: como pode haver uma derrocada repentina assim?

Diferentemente da perda de talento do ator no livro de Roth, a degradação do Cruzeiro tem explicação: gestões perdulárias, corruptas e incompetentes. Tantos anos de irresponsabilidade fiscal, de uma estrutura política falida, de erros na montagem de escretes e de crimes não poderiam passar impunemente. O presidente Sérgio Rodrigues, que chegou com uma proposta de "Novo Cruzeiro", prossegue com velhos equívocos, tornando o clube cada vez mais vexaminoso. 

O torcedor não se empolgou com a chegada do treinador Mozart Santos, cujo feito mais "brilhante" foi o quase acesso do CSA na Série B passada. Até o momento ele não contrariou a máxima do Barão de Itararé: "de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo". E nem dá sinais de que vai. Não conseguiu sequer manter uma constância tática. Todo jogo é uma formação diferente, variando também a escalação. Dois zagueiros, três zagueiros, três atacantes, quatro atacantes... O homem não tem a menor ideia do que fazer com esse time. Está usando do método "tentativa e erro". E só erra. A frieza dos números demonstra: a equipe atual consegue ser pior que a do ano passado. 

Espero que o Cruzeiro não tenha o mesmo destino do protagonista de "A Humilhação". Spoiler: ele nunca mais voltou a ser um grande ator. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

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