quarta-feira, 9 de junho de 2021

Tigrão de papel


Era o Cruzeiro hexacampeão jogando contra o modesto Juazeirense, time do interior baiano, pela terceira fase da Copa do Brasil. No comando do maior vencedor da competição estava o treinador Felipe Conceição, conhecido como "Tigrão". O adversário do time celeste está na última divisão nacional. Sabe se lá quantas folhas salariais do Cancão de Fogo os gastos cruzeirenses podem pagar. Mas passou para as oitavas-de-final do torneio o "Davi sertanejo", que venceu o "Golias azul" nos pênaltis depois de ganhar no tempo normal por 1 a 0.

Na partida de ida, no Mineirão, o Juazeirense demonstrou ser um time sem repertório. Não soube propor o jogo. No entanto, ciente de suas limitações, soube ser, ainda que pouco, ameaçador. Sua estratégia consistiu em ficar na retranca diante do "poderoso" oponente e fazer ligação direta para pegar a defesa azul desprevenida. Quase deu certo, pois conseguiu em alguns momentos dar sustos no Cruzeiro. Fábio teve que fazer uma boa defesa.

No segundo tempo da mesma partida, o time baiano não conseguiu mais ameaçar o gol cruzeirense, porém ainda conseguia manter a defesa estável. O escrete montado pelo Tigrão, apesar de ser limitado de acordo com determinados padrões, ainda tinha superioridade técnica sobre o adversário. Uma hora ia se impor e foi o que aconteceu.

Essas duas partidas entre Cruzeiro e Juazeirense foram marcadas por duas ironias cruéis. A primeira: o gol de Bruno José foi feito por contra-ataque, exatamente a mesma arma que o Cancão de Fogo esperava dispor para triunfar. Num raro momento em que a defesa baiana estava desprevenida, o ponta do Cruzeiro aproveitou e marcou o gol da vitória. O time do Tigrão prevaleceu. Mas tinha vencido só a batalha, não a guerra.

No segundo jogo, no Adauto Moraes (Juazeiro), esperava-se que o Juazeirense fosse buscar o resultado, pois estava em desvantagem. Isso implicaria em mais espaços para o Cruzeiro aproveitar. Todavia o que se viu foi um Felipe Conceição "pragmático", no sentido pejorativo do termo. Abriu mão da posse de bola, da "linha alta", do "perfil ofensivo", da procura incessante pelo gol para adotar um estilo cauteloso, o que acaba deixando a bola para o adversário e permitindo ele propor o jogo. Em outras palavras, um "time cagão". Nem Sóbis foi titular. Parecia conveniente jogar assim, porque havia a vantagem adquirida na primeira partida. 

Foi um erro grave, como se viu. Tigrão esperava um Juazeirense pobre ofensivamente, como na primeira peleja. E realmente o time do Sertão baiano continuou assim na segunda. Mas quando se conta com jogadores tecnicamente limitados para "fechar a casinha", tal postura cautelosa não é uma boa ideia. Se chamar demais o oponente, uma hora alguém vai arrombar a casinha. Foi o que aconteceu: Ramon (de novo!), Cáceres e Wéverton falharam. O erro conjunto permitiu o escrete baiano marcar o gol da vitória no tempo normal. O Cruzeiro ainda teve chance de empatar depois, porém não conseguiu, em outro lance polêmico.

O Cruzeiro imponente de outrora não existe mais. Na primeira partida, ainda tinha uma aparência grandiosa (trata-se do hexacampeão) a ponto de fazer o adversário se fechar na defesa. Contudo, o Tigrão não era o que parecia. Era um Tigrão de papel, afinal. O líder comunista Mao Zedong define:

Na aparência é muito poderoso, mas, na verdade, não é nada a temer; é um tigre de papel. De fora um tigre, dentro é feito de papel, incapaz de resistir ao vento e à chuva. 

A outra ironia, já ia me esquecendo. Conceição foi demitido logo após a derrota por 3 a 2 na disputa de pênaltis. Alguns torcedores o criticavam por ele jogar em "linha alta" com um time limitado. Segundo alguns destes gênios táticos, a fórmula mágica para alcançar o acesso é se fechar e jogar no contra-ataque, mesmo diante de times mais fracos. Tigrão os ouviu, aparentemente. Adotou uma postura cagona, subestimou o Juazeirense e foi derrotado. O Cruzeiro deu um vexame monumental. O treinador "ofensivo" foi para o olho da rua depois de ter fracassado na partida em que apostou no estilo defensivo para vencer.

Vai embora também, Sérgio

O presidente Sérgio Rodrigues tinha que ter saído do cargo há algum tempo. Fracassou em fazer o time alcançar a Série A na temporada passada por causa de escolhas erradas dentro e fora de campo. Cumpre mandato, é verdade, porém já deveria ter reconhecido que não é capaz de ajudar a reerguer o clube. Ele prossegue no comando e as coisas só pioram. Continua errando e suas más decisões culminaram em um dos maiores vexames do Cruzeiro na Copa do Brasil. É mais outro incompetente e marqueteiro que só conseguiu ser presidente porque há uma oligarquia no controle do clube. 

O Cruzeiro precisa ser democratizado para que o sócio-torcedor tenha o direito ao voto e até mesmo de se candidatar. Tem que haver uma diversidade de opções de escolha presidencial. O torcedor celeste deve ter o direito de influir diretamente no destino da instituição. Chega de uma "elite de iluminados" achando que pode conduzir o clube melhor do que a torcida. A sucessão de atuações patéticas e vergonhosas indica que essa turma tem que ficar longe do Cruzeiro. 

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

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