sábado, 12 de junho de 2021

Mozart precisa compor uma defesa tenaz


Neste sábado (12/06) será o primeiro jogo de Mozart Santos como treinador do Cruzeiro. Em duas partidas na Série B, o time celeste já levou sete gols. Portanto, o maior desafio, no momento, para o novo comandante é ajeitar esse problema defensivo. 

No Campeonato Mineiro deste ano, o Cruzeiro teve a melhor defesa da primeira fase. Levou apenas quatro gols em 11 jogos. Mas é um torneio tecnicamente fraco. Bastou enfrentar um time mais qualificado na semifinal, o América, que as deficiências ficaram escancaradas. Dois jogos foram o suficiente para o escrete de Felipe Conceição levar uma quantidade de gols superior ao total que levou na competição inteira. O time de Lisca fez cinco gols.

Na derrota para o Confiança na primeira rodada, houve uma situação atípica, é verdade. Duas expulsões, por exemplo. Todavia, levou o primeiro gol quando o jogo estava 11 contra 11. No segundo tempo, mesmo com inferioridade numérica, buscou o resultado - até chegou a empatar e teve chances de fazer o segundo gol - porém ao fazer isso se expôs mais que o normal e levou dois gols. 

Contra o CRB, falhas individuais e coletivas (e de arbitragem) comprometeram o resultado. Assim como um erro conjunto permitiu o gol da Juazeirense na fatídica eliminação da Copa do Brasil na última quarta-feira. O time de "Tigrão" adotou estratégias táticas distintas nessas duas partidas. No jogo contra o time alagoano, marcou em "linha alta", criou diversas chances de gols, foi ofensivo; contra a equipe baiana, adotou um estilo mais cauteloso, defensivo, e deixou o adversário tentar propor o jogo. Em ambos os jogos, foram as más atuações individuais que levaram às respectivas derrotas. O que nos leva a supor que o problema está no "conteúdo" do time, não na "forma".

O que Mozart poderá fazer para resolver esse problema?

Se estamos falando de qualidade de elenco, é preciso reforços. No entanto, como "forma" e "conteúdo" se relacionam dialeticamente, é possível que uma determinada construção tática melhore também o desempenho individual (e vice-versa), além do coletivo. Quando falamos em "jogo ofensivo" ou "defensivo" não se trata de uma dicotomia simplista, pois há variados tipos de táticas "ofensivas" e "defensivas". Em entrevista coletiva, o novo treinador do Cruzeiro afirmou que gosta "de atacar, ter a bola e empurrar o adversário para trás". Porém o seu estilo de jogo não é exatamente igual ao do treinador anterior. Será que uma nova "forma" pode melhorar a defesa?

Com a palavra, Leonardo Rezende, analista de desempenho em futebol, em entrevista ao portal Superesportes MG:

Diferentemente do Conceição, em momento defensivo, a prioridade do Mozart é uma marcação em bloco médio. Talvez, pelo elenco que tinha no CSA e pelo que vai encontrar no Cruzeiro, aproveite a filosofia e faça marcação em bloco alto. Nos tiros de meta, ele subia o bloco e tentava recuperar em zona avançada. Marcação individual no setor da bola.

Nesses momentos, marcava em 4-4-2 e, de acordo com avanço da equipe adversária, variava para um 4-2-3-1, com os pontas vigiando os laterais, o atacante dividindo entre os zagueiros e um dos meias no volante. Os outros dois volantes dando cobertura por trás. Em bloco médio, também fazia marcação individual por setor. O tipo muda pouco em relação ao Conceição. O que deve mudar é que, inicialmente, a equipe não deve marcar tanto em bloco alto. Talvez, seja bom para o time recuperar confiança e melhorar o sistema defensivo.

Quando perdia a bola, o CSA tinha uma ideia de pressionar após a perda para recuperar rápido. Era muito mais coordenada e coletiva do que a do Cruzeiro com o Conceição, até pelo tempo de trabalho. Por não atacar com tantas peças, o CSA também tinha mais jogadores preparados para possíveis transições defensivas. Achei um time mais equilibrado, mas era um trabalho que já tinha 30 jogos, bem mais consolidado.
Atentem ao trecho "um time mais equilibrado". Os fracassos do Cruzeiro dentro de campo tem como uma de suas principais causas o desequílibrio. No ano passado, a defesa foi o ponto forte (apesar de falhas comprometedoras ao longo da competição), terminou a Série B como a terceira menos vazada. Mas a criatividade ofensiva era pífia e o time terminou como o 13º melhor ataque. Nesta temporada, Felipe Conceição conseguiu melhorar razoavelmente o poder ofensivo do time. Dava sinais de ter uma boa defesa, como ficou mostrado no jogo contra o Atlético Mineiro e na primeira fase do estadual. Entretanto, desde a semifinal do Mineiro, o sistema defensivo tem sido desastroso, como já dissemos aqui. 

Mozart pode se aproveitar da estrutura deixada por Felipe Conceição, no quesito ataque. A filosofia da "verticalidade" foi, pelo menos um pouco, introduzida no elenco. Mais importante, por ora, é saber como ele ajeitará a defesa. Vai aplicar o padrão que aplicou no CSA, como o bloco médio de marcação? Não custa tentar. Ele parece ser taticamente diferente dos antecessores. Se há algum "avanço" em relação ao ano passado, é ter parado com o "mais do mesmo" na escolha de treinadores. O Cruzeiro precisa tentar coisas novas. 

Boa sorte, Mozart!

Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA

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